quarta-feira, 18 de maio de 2011

Humberto Meira, um Homem com H

Meu pai começou a trabalhar com 12 anos. Casou com 16. Teve 13 filhos, 11 se criaram. Viveu com minha mãe até o último dia de vida dela, foram 58 anos de casados. O seu legado para os filhos não tem ligação com dinheiro. A herança que ele deixou foi imensamente mais valiosa.
Papai sempre quis dar o melhor aos seus filhos e lutou para isso, incansavelmente. Incentivava os estudos e mostrava as vantagens de um concurso público. Nunca obrigava: dava conselhos, oportunidades e respeitava as escolhas de cada um. Lutou muito pela vida, mas os estragos de 40 anos de fumo venceram a batalha em 2007 e o guerreiro nos deixou, aos 84 anos, muito lúcido e com muita vontade de viver.
Que lembranças guardo dele? Lembranças de um homem que não conhecia a preguiça. Aposentou-se novo, mas nunca deixou de trabalhar para proporcionar aos filhos o que não teve. Preocupava-se em falar bem e eu, principalmente, incorporei isso. Ele vivia tentando me pegar em alguma falha, era muito engraçado. A única vez em que ele conseguiu foi quando eu disse que o superlativo de sério era seríssimo e ele vibrou, pois o correto era seriíssimo, kkkkk. Lembro que ele lotava o fusquinha com 10 garotas e deixava uma a uma em casa, após o treino de ginástica olímpica. Ele e mainha nos acompanhavam em tudo que fazíamos, com grande orgulho. Meu pai me ensinou a ser solidária, honesta, a assumir os meus erros e consertar o que fosse possível. Nunca vi papai ser injusto com ninguém e muito menos ingrato. Posso encher a boca e dizer que tenho orgulho do pai que tive. Foi um homem pobre, mas lutador. Honesto, justo, solidário. Jamais olharei para trás e lembrarei algo de que me envergonhar. Meu marido tinha nele um pai, porque perdeu o dele aos 18 anos e sofreu muito essa ausência. Sempre comenta: 'meu sogro era um Homem, ali era um Homem de verdade, não era um cabra safado'. É muito bom ouvir isso. Claro que ele não era perfeito, era humano, falho, com defeitos. Mas as qualidades superavam qualquer defeito. Perfeito só Deus. Com ele aprendi a ser grata a Deus por tudo e grata a quem me estendesse a mão. Aprendi a me conformar com o que podia ter e a não invejar os bens alheios. Aprendi a não apontar o dedo, julgar e condenar ninguém sem ouvir todos os lados da questão. É maravilhoso saber que meu pai foi um homem de valor, que não foi um covarde inescrupoloso, que ele nunca prejudicou ninguém, nunca abandonou um filho, mesmo casada ele levava almoço para mim na escola, pagava algumas contas quando eu precisava, jamais me desamparou, jamais trocou os filhos por nada nem ninguém, jamais um filho seu caiu na sarjeta, nas drogas, no álcool, no crime. Seus 11 filhos são pessoas honestas, que vivem do seu trabalho, que não exploram terceiros para se sustentar, que não tiram o sustento dos filhos para dar a outros, que não caluniam as pessoas, que não tentam prejudicar ninguém para satisfazer seu egoísmo, que não voltam às costas a quem lhes pede que ao menos escute o que tem a dizer. Meu pai me ensinou a pedir perdão e a perdoar. A fazer o bem sem olhar a quem. A amar a Deus sobre todas as coisas. A valorizar minha família. Tenho muito orgulho do pai que tive. Louvo a Deus pela vida do meu pai, pelo seu caráter, pela sua bravura diante dos obstáculos da vida. Não me envergonho de nada que se refira a ele, porque ele não foi um fraco, um covarde, mas foi um HOMEM DE VALOR E DE CARÁTER.

Nenhum comentário: