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sábado, 20 de junho de 2009

A moça tecelã



A Moça Tecelã

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo se sentava ao tear.Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.Depois, lãs mais vivas; quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que, em pontos longos, rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.Mas, se, durante muitos dias, o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados para que o sol voltasse a acalmar a natureza.Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava seus dias.Nada lhe faltava. Na hora da fome, tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor-de-leite que entremeava o tapete. E, à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.Mas, tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha e, pela primeira vez, pensou como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E, aos poucos, seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma e foi entrando na sua vida.Naquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.— Uma casa melhor é necessária, disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor-de-tijolo, fios verdes para os batentes e pressa para a casa acontecer.Mas, pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Por que ter casa, se podemos ter palácio?, perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates de prata.Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça, tecendo tetos e portas, e pátios, e escadas, e salas, e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto, sem parar, batiam os pentes, acompanhando o ritmo da lançadeira.Afinal, o palácio ficou pronto. E, entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.— É para que ninguém saiba do tapete, disse. E, antes de trancar a porta a chave, advertiu:— Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!Sem descanso, tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos; os cofres, de moedas; as salas, de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.E, tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E, pela primeira vez, pensou como seria bom estar sozinha de novo.Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E, descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois, desteceu os criados e o palácio. E todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz que a manhã repetiu na linha do horizonte.

COLASANTI, Marina. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. 6. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.

É isso aí! Um dia a pessoa desperta,abre os olhos,enxerga até mesmo o que não queria e resolve olhar mais pra si e eliminar o que lhe escraviza ,vampiriza,impede de ser feliz!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Biblioteca de Bete IV


Muito marcante esse livro,muito triste e verdadeiro,mostra a dura realidade dos menores "despejados" na antiga FEBEM (esse BEM significava bem-estar do menor),que em vez de amparar,educar,ressocializar,era uma câmara de torturas e fábrica de revoltados e marginais.Sempre gostei de ler,era sócia do Círculo do Livro e comprei vários bons livros nessa época. Recomendo!História verídica,inspirou o filme VERA,rendeu prêmio a Ana Beatriz Nogueira,que interpretou Herzer.Confira o discurso de Eduardo Suplicy no Senado:


"Quando deputado estadual, entre 1979 e 1980, fui convidado pela Srª Lia Junqueira, Presidente do Movimento em Defesa do Menor, para conhecer os inúmeros desvios de procedimentos que ocorriam na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor Febem, em São Paulo nas unidades da Imigrantes, do Pacaembu, do Tatuapé, que é masculina, e da Vila Maria, que é feminina, além de outras. Verifiquei que havia inúmeras queixas e continua havendo até hoje, 20 anos depois de maus-tratos de menores, de abusos por parte dos responsáveis ou dos monitores, dos vigias, inclusive com respeito ao que ocorria, por exemplo, com as adolescentes, em virtude dos procedimentos dos responsáveis pela Febem. Certo dia, Lia Junqueira convidou-me para conhecer uma moça que desde os 14 anos estava na Febem na época, já estava com 17 anos e meio , explicando-me que, se alguém se responsabilizasse por encontrar algum trabalho para que ela pudesse garantir sua moradia e alimentação, ela poderia sair da Febem. Resolvi escrever ao juiz, o qual autorizou a saída dela. Ao contar-me essa moça a sua história, observei sua qualidade de escritora de poemas. Eu lhe disse que a história dela era tão relevante que seria interessante publicar não apenas os seus poemas, mas também sua própria história. Convidei-a para trabalhar em meu gabinete, ainda que por modesta remuneração. Dei-lhe a função de ajudar em todas as tarefas do gabinete, para aprender, mas ressaltei que sua principal tarefa seria a de escrever um depoimento sobre sua própria vida.
Algum tempo depois, ela encaminhou seus trabalhos para Rose Marie Muraro, responsável editorial da Editora Vozes, que se entusiasmou com eles. Assim também ocorreu com Leonardo Boff, que se emocionou com a leitura do trabalho. Mais de 27 edições foram publicadas desde então. A obra dela é lida, sobretudo, pelos jovens das áreas carentes, nos bairros de São Paulo. Para que se tenha uma idéia da força desse texto, Senador Maguito Vilela, gostaria de lhe transmitir que, em 05 de agosto de 1980, depois de a autora já ter esse livro pronto, faltando apenas ser impresso e divulgado, chegou ela ao meu gabinete e disse-me que estava muito preocupada, angustiada e entregou-me a seguinte poesia:

Minha Vida, Meu Aplauso

Fiz de minha vida um enorme palco
sem atores, para a peça em cartaz
sem ninguém para aplaudir este meu pranto
que vai pingando e uma poça no palco se faz.
Palco triste é meu mundo desabitado
solitário me apresenta como um astro
astro que chora, ri e se curva à derrota
e derrotado muito mais astro me faço.
Todo mundo reparou no meu olhar triste
mas todo mundo estava cansado de ver isso
e todo mundo se esqueceu de minha estréia
pois todo mundo tinha um outro compromisso.
Mas um dia meu palco, escuro, continuou
e muita gente curiosa veio me ver
viram no palco um corpo já estendido
eram meus fãs que vieram pra me ver morrer.
Esta noite foi a noite em que virei astro
a multidão estava lá, atenta como eu queria
suspirei eterna e vitoriosamente
pois ali o personagem nascia
e eu, ator do mundo, com minha solidão...
morria!
Anderson Herzer

Disse-lhe que parecia que ela estava pensando em morrer, ao que ela me respondeu que era apenas força de expressão. Todavia, duas semanas depois, eis que ela se joga do Viaduto 23 de Maio, vindo a morrer no Hospital das Clínicas. Uma pessoa a encontrou estendida no asfalto, com uma estrela do PT na lapela do seu terno, muito ferida e com graves lesões na bacia, infelizmente. Ela tinha um ideal, conforme consta de sua breve autobiografia escrita no livro Versejando, com dados que assim forneceu:
Anderson Herzer, jovem poeta, escreve desde os 12 anos de idade, e brevemente verá o seu ideal realizado, através do seu primeiro livro. O livro contém denúncias sobre a Febem, onde esteve. O principal tema do livro é tentar diminuir as violências, corrupções e a morte de menores, que necessitam apenas de amor, compreensão e não serem massacrados pela sociedade.
Ela, em seus poemas, narrava histórias de pessoas que haviam se perdido por alguma razão. Ela escreveu sobre sua mãe e que nasceu em Rolândia, no interior do Paraná. Certo dia soube, pela correria em sua casa, que seu pai, dono de um bar, havia sido assassinado com um tiro no pescoço por motivo de vingança. Descreve que sua mãe, então, não tendo como sobreviver, acabou sendo de Pedro, de João, de Manoel, ou seja, de ninguém e, por se prostituir, acabou ficando doente e faleceu.
Sr. Presidente, note que aqui ela estava, provavelmente, escrevendo para sua mãe:

Prostituição e o Fim da Vida


Se na madrugada triste você chorou,
se em um canto seu prato derramou
e se para mim, me contasse sua vida
eu conseguiria lhe mostrar aonde errou.
Olhar em seus olhos e vê-los sorrindo,

beijar sua boca, lhe abraçar, lhe sentindo
acariciar sua face e todo seu corpo
e do meu amor sincero ir lhe cobrindo.
Deitar-lhe no solo frio e deixar que seu corpo todo
toque nas regiões sombrias,
com gosto de vida e morte de fogo.
Puxar você pelo braço e deitar-me a seu lado
e mostrar-lhe que te amo, esquecendo seu passado.
Seu passado forte e errado
que marcou sua vida de mulher,
uma mulher que luta por um amor
que mesmo pecando, ainda quer.
Venha cantar a sua canção aqui
e a dedique a quem você amou,
cante tudo o que fez na vida
e diga a todos que você pecou.
MULHER...
Você errou no destino puro,
pôs em jogo uma vida alheia
mas pode se recuperar agora
pois sua vida, você mesmo semeia.
Você defrontou-se com a noite fria,
deitou seu corpo a quem quisesse usar,
mas ninguém sabia que você, mulher,
era humana, e também precisava amar.
Agora que se arrependeu, antes de fechar os olhos,
e que sua vida Deus vai levar
explique a Ele o porquê da vida e a morte,
tenha certeza Ele vai te perdoar.

Ela, tantas vezes, disse das coisas que eram importantes para as pessoas que, de alguma forma, encontravam-se muito sós neste Brasil. Foi dura com seu pai ou com seu novo pai. Conta, neste livro que mostra a maneira como as pessoas acabam indo parar na Febem, como ela foi adotada por sua tia e um tio bem mais velho, o qual, infelizmente, certo dia resolveu tentar acariciá-la, violentá-la. Com ele, então, ela lutou, acabando por quebrar o próprio braço. Ela soube dizer das vozes daqueles que, em muitos lugares, vivem tão sós e nem sempre têm o direito à vida com dignidade.
Para encerrar, Sr. Presidente, lerei apenas mais um poema de Sandra Mara ou Anderson Herzer.

Mataram João Ninguém

Quando o próximo sangue jorrar
daquele por quem ninguém irá chorar,
daquele que não deixará nada para se lembrar
daquele em quem ninguém quis acreditar.
Quando seus olhos só puderem fitar o escuro
quando seu corpo já estiver inerte, frio e duro,
quando todos perceberem morto João Ninguém
e quando longe de todos ele será seu próprio alguém.
Tantas mãos, tantas linhas incertas,
tantas vidas cobertas, sem ninguém pra sentir,
Tantas dores, tantas noites desertas
tantas mãos entreabertas, sem ninguém pra acudir.
Qualquer dia vou despir-me da luta
pisar em coisas brutas, sem me arrepender.
Tão difícil ver a vida assassinada
quando estamos já tontos pra tentar sobreviver.
As perguntas sem respostas, sem nada,
as vidas curtas e desamparadas
o último grito que não foi ouvido
calaram mais um homem iludido.
E no mundo não dão mais argumentos
pra fugir aos lamentos
De quem sozinho falece.
de quem sozinho falece.
Para esses, não há mais compreensão,
não há mais permissão, para que se tropece.
Na televisão, o aguardo da cotação
um instante ocupado, para dizer morto João Ninguém
mas a aflição ataca, a cotação subiu ou caiu?
e João morreu... ninguém ouviu.
Eu vou distribuir panfletos,
dizendo que João morreu
talvez alguém se recorde
do João que falo eu.
Falo daquele mendigo que somos
pelo menos em matéria de amor,
daquele amor que esquecemos de cultivar
o qual com tanto dinheiro, ninguém jamais coroou.

É a obra dessa jovem, que, até em face das circunstâncias, acabou se transformando mesmo na sua adolescência. Embora fosse mulher, passou a usar cabelo curto e roupas de homem. Em verdade, aqui está uma obra inteiramente dedicada ao objetivo de que todas as pessoas no Brasil, sobretudo os menores, as crianças, venham a ser tratadas com dignidade e como seres humanos. "


PronunciamentosTexto integral

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores /SP)
Data
05/12/2000
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso


http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronunciamento/detTexto.asp?t=313288

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Biblioteca de Bete II



Este é mais que um simples livro. Estas são mais que meras palavras impressas. O Estudante é o grito desesperado de alerta para jovens, pais, professores, qualquer pessoa que pode, a qualquer momento, se tornar vítima das drogas. É o relato de um jovem que teve seu lar destruído pelo fantasma da droga, que não respeita idade, classe social, religião e raça. Muitos leitores poderão achar o conteúdo deste livro chocante e brutal, mas não devem se esquecer de que a realidade aqui escrita é muito mais. Um livro que não pode deixar de ser lido por todos que abominam o caminho da miséria e degradação para o qual os jovens são arrastados pelo vício das drogas.
Retirado de : http://www.americanas.com.br/AcomProd/1472/517289

Não lembro por que comprei esse livro,mas sei que era adolescente e amei a leitura,apesar de ser muito triste a história e não ser ficção. O que tenho é o da capa com corrente. Não me canso de recomendar essa leitura a todos que conheço.Dei o livro na mão do meu filho mais velho,hoje com 17,há uns dois anos e ele "devorou". Não consegui que o caçula,15, lesse mas já falei várias vezes e continuarei tentando.Leiam,presenteiem,divulguem!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Biblioteca de Bete I





Tive a ideia de falar sobre alguns livros que li (e gostei) para animar outros a ler também!Começo por uma autobiografia do irmão do cantor Toquinho. Li há muitos anos e gostei muito. O que tenho é o da capa bem colorida. Procurando algo sobre o livro,encontrei palavras do próprio autor e compartilho com todos!Leiam!Quem lê,viaja!

João Carlos,Márcia e Marina


Nasci em 1942 e ainda desfrutei de uma infância de rua, espaços de terra e grama. A turma da rua de casa, a turma da rua de cima, a boa rolando nos campos da várzea.
Fui um garoto transbordante de energia infantil, um adolescente comportado , objeto e objetivo de muitos casos de amor, sonhados e vividos. Participei de uma juventude que transmudou da Bossa Nova para os Beatles , de Juscelino para a Repúlbica Militar. Vi nascer ao mesmo tempo Pelé e Brasília.
Filho de uma família de classe média, carregava comigo anseios fundamentados em realizações e profissões padronizadas. Aos 23 anos , completei o curso de Ciências Contábeis Econômicas na PUC e com quase 26 anos chegava até o 5º ano de Direito na USP .
Então, a vida me ofereceu caminhos novos , através de uma guinada aparentemente cruel : A paraplegia , causada por um acidente de automóvel na Via Dutra em 1968. A partir daí a inércia física aflorou em mim valores muito mais sensíveis . E me aprofundei como autodidata , pelos caminhos da pintura.
Expus quadros na Praça da República , aprendi a discernir em função da simplicidade e da humildade do homem da rua. Evolui e valorizei minha arte . Participei de Salões de Pintura e ganhei alguns modestos prêmios. Com várias exposições individuais e coletivas hoje faço da pintura um trabalho , uma brincadeira vibrante e gostosa , uma necessidade cotidiana, um amor a mais em minha vida.
O Outro amor é a literatura, meu primeiro livro , " Minha Profissão é Andar " foi o precurssor no Brasil , da literatura produzida por deficientes físicos ou pessoas a eles ligadas. A partir dele muitos outros vieram !
Acho a vida uma descoberta perene , um conflito incessante , um intrigante enigma que nos desafia a cada passo. Existir é poetar esse universo árido com dedicação de amor às coisas e às pessoas. É saber encontrar frestas de luz que nos tornem ansiosos a ponto de encontrarmos a tranquilidade. E uma dessas frestas , a mais sublime até hoje em minha vida , ascendeu-se em 14 de Agosto de 1996 , e chama-se MARINA , gerada por mim e Márcia e nascida doce , delicada e linda. Mais um presente que a vida me oferece nessa sucessão incrível de constantes privilégios.
João Carlos Pecci

Dos seus livros, o mais conhecido é Minha Profissão é Andar. O que você conta nesse livro?

João Carlos Pecci: O título já diz, é irônico, minha profissão é andar. Eu continuo andando, não pisando o chão, mas através de conquistas de objetivos alcançados no setor do amor, no setor do trabalho e no setor do lazer também.Eu me tornei um artista plástico, um escritor, eu me casei, eu consegui fazer uma filha , coisas às vezes tida como impossíveis para um deficiente físico. Então a vida me proporcionou esses andares, muito mais complementares de uma relação humana do que apenas pisar no chão.

Quadros de Pecci



quarta-feira, 22 de abril de 2009

Leite derramado





Chico Buarque investiga mudança da sociedade
Neste quarto romance, compositor segue a tradição do pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda

Autor concentrou-se no processo criativo, despreocupando-se de suas outras artes; a obra chega hoje às livrarias com tratamento de best-seller, duas capas e 70 mil exemplares. Foto: Bruno Veiga/Divulgação

Ubiratan Brasil // Agência Estado
São Paulo - Em janeiro, Chico Buarque de Holanda colocou o ponto final na obra que escrevia desde setembro de 2007 e que hoje chega com tratamento de best-seller às livrarias: Leite derramado (Companhia das Letras, 200 páginas, R$ 36).
história do homem velho que, em um leito do hospital, revisita o próprio passado e, por extensão, a transformação da sociedade brasileira, chega com duas opções de capas e uma fornada inicial de 70 mil exemplares.
Neste quarto romance, Chico Buarque segue a tradição do pai, o sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda, cujo clássico Raízes do Brasil descreve o processo de formação da sociedade brasileira como singular e distinto da dos outros países da América Latina. "O curioso é que ele se surpreendeu quando levantei a hipótese de a imprensa relacionar o livro com a obra do pai", comenta o editor Luiz Schwarcz.Há, no entanto, influências sociológicas, literárias e familiares. Criado em um ambiente notadamente intelectual, Chico Buarque gosta de relembrar com amigos a seriedade profissional do pai. "Sérgio sempre dizia que literatura é coisa séria", comenta o compositor que, ao ser premiado com o Jabuti por Estorvo, em 1992, fez questão de receber a estatueta, mesmo debilitado por uma perna quebrada e avesso a cerimônias. "Meu pai também ganhou um Jabuti", orgulhava-se.Chico repetiu sua monástica rotina ao criar Leite derramado, ou seja, concentrou-se no processo, despreocupando-se das outras artes. Dessa vez, foi poucas vezes a seu apartamento em Paris, onde costuma se isolar quando ameaçado por crises criativas. Também pouco compartilhou da escrita com amigos. "Ele quase não fez comentários e só suspeitei de que haveria algum cunho histórico porque ele fez consultas com a Lilia", conta Schwarcz, referindo-se à sua mulher, a antropóloga e professora Lilia Moritz Schwarcz.Quando entregou os originais, Chico já os apresentou atualizados sob as regras da nova ortografia. O nervosismo, porém, era típico de qualquer escritor. "Chico logome disse que, se eu não gostasse, ele poderia recomeçar e mudar tudo, pois estava com a mão boa", relembra Schwarcz. "Como se dedica exclusivamente ao texto quando está escrevendo, ele sofre muito".A avaliação de amigos próximos, assim, transforma-se em informação preciosa. Chico recebeu ótimo retorno dos editores da Companhia das Letras responsáveis pela publicação. Também ficou lisonjeado com as palavras da crítica literária Leyla Perrone-Moisés, que classificou o livro como "obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem".Não sobraram apenas confetes, no entanto. Rubem Fonseca, por exemplo, notório pela reclusão diante da imprensa, não gostou do título, Leite derramado. Ele também contestara o de outro livro, Estorvo, dizendo que seria melhor se viesse acompanhado do artigo, O estorvo.Segundo Fonseca, o estranhamento agora vem da contradição entre o título inspirado em um ditado popular e a escrita rebuscada do romance. A escolha do título, aliás, foi demorada - surgiu apenas depois de escrita a frase final -, mas despontou como única opção, ao contrário de outras obras, como Benjamim, escolhido entre três possibilidades.O livro chega amparado por uma ampla campanha de marketing, envolvendo mídia impressa, rádio e TV, além de anúncios em livrarias e ônibus. Também um site (www leitederramado.com.br) entra no ar hoje, com vídeo exclusivo com Chico Buarque, agora ansioso pelas críticas.

Edição de sábado, 28 de março de 2009

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Meu novo banner



Queria mudar o banner do blog e resolvi usar imagens de escritores brasileiros, para representar melhor o estilo que escolhi. Existem muitos além desses mas todos não caberiam aqui. Após escolher alguns, lembrei que estudei com professores que escreviam e resolvi procurar fotos para homenagear essas figuras que me marcaram, que nunca esqueci... é possível que haja mais, até me lembrei de alguns mas não achei fotos. Deixo meu carinho e minha gratidão a esses mestres com quem tive o privilégio de estudar no curso de Letras da UFPE!São eles, pela ordem das fotos : Luzilá Gonçalves,César Leal, Nelly Carvalho, Marcus Aciolly, Irandé Antunes,Lucilo Varejão (filho) e Ariano Suassuna, um time de peso!
Sinto-me privilegiada por haver estudado com profissionais tão competentes quanto os citados acima e acrescento: Elvite Assunção, Inalda, Novelino, Raquel, Gilza, Paulene, Lucilo Varejão ( pai ) e a inesquecível Mirtha Magalhães!

sábado, 15 de novembro de 2008

Poesia que eu poderia ter escrito


Gosto desse autor desde a infância. Tive contato com sua poesia na escola e seu nome ,singular(J.G. de Araújo Jorge), nunca me saiu da memória. Quando li essa poesia, tive a impressão de que havia sido escrita por mim,tamanha a identificação que senti. Às vezes sinto essa tristeza ,aparentemente, sem explicação,e exatamente ontem me senti triste o dia todo,coração apertado sem um motivo específico. No final tem o link do site para sabermos mais sobre sua vida e obra.

" Triste "

Eu hoje acordei triste, - há certos dias
em que sinto esta mesma sensação...
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias ...

E pergunto a mim mesmo: - tu não rias
ainda ontem tão feliz ... diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias ? ...

E, nem eu sei dizer por que estou triste ...
Quem me olha não calcula com certeza,
o imenso caos que no meu peito existe ...

A tristeza que eu sinto ninguém vê...
- E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê !...




( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. I - 1a edição 1965 )
http://www.jgaraujo.com.br/index.html

Milhares de registros de MPB chegam à rede



FOLHA DE PERNAMBUCO

Rio de Janeiro (Folhapress)
- Com o propósito de preservar -mesmo que a princípio só para ele e os amigos chegados - um pouco da história cultural do Brasil, o compositor, escritor, produtor, diretor de espetáculos e pesquisador Hermínio Bello de Carvalho guardou em armários e gavetas um acervo de preciosidades que, agora, para espanto do próprio colecionador, estará disponível na internet.
O site
www.acervohbc.com.br. entra na rede hoje à noite, trazendo mais de 10 mil itens armazenados por Hermínio ao longo das seis últimas décadas. Com recursos do Programa Petrobras Cultural, o arquivo particular do múltiplo artista foi organizado, catalogado e digitalizado.
Hermínio, de 73 anos, conta que, para poder consultar seu próprio acervo, terá que se adestrar na internet, ferramenta que afirma não dominar com precisão. “Estou aprendendo com eles [os produtores do site]. Estão sendo colocadas em circulação coisas que eu, sinceramente, já não pensava que pudessem ser mostradas’’, diz Hermínio.
Uma das jóias do acervo é a reprodução, no original datilografado, da letra de Hermínio para uma melodia de Tom Jobim (1927-1994). Composta na casa em que o maestro morava em agosto de 1964, ambos estimulados por muito uísque, como lembra o letrista, a canção é absolutamente desconhecida. Não foi gravada e Hermínio não memorizou a melodia, não localizada até hoje nos arquivos de Tom.
O site é dividido em itens de áudio, iconografia e texto. As gravações trazem registros caseiros de música e conversa, interpretações inéditas, shows e concertos que nunca viraram disco. São centenas de canções, com intérpretes de primeira linha, muitos já mortos -Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Donga, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, João Nogueira. Entre os vivos, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e João Bosco.
As fotografias servem como referência ao trajeto de Hermínio na cultura nacional. E a área de texto divide-se em quatro: poesia, com trabalhos de Hermínio publicados em livros, inéditos e manuscritos originais; cancioneiro, com parte da obra musical em parceria com compositores como Cartola, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Paulinho, Elton, Sueli Costa, Ivone Lara, Martinho da Vila, Roberto Frejat, Ismael Silva e Ataulfo Alves; crônicas, ensaios e material jornalístico editados e inéditos escritos nos últimos 50 anos; e correspondência trocada com personagens como Drummond, Oscar Niemeyer, Isaurinha Garcia e Carlos Cachaça.


11/12/2008

Feira do Livro,pena que não foi em Recife



FOLHA DE PERNAMBUCO

Trocando em Miúdos
Exemplo a seguir

Andréa Cortez

Livro a quem é de direito: o leitor, o povo. Bom seria se a realidade fosse essa de verdade. Não fosse o fato de o nosso País ser dono de índices sofríveis e vergonhosos de analfabetismo - e o que é pior de analfabetismo funcional - o acesso à literatura é ainda mais dificultado diante dos valores dos livros cobrados nas prateleiras das livrarias. Mas existe quem ainda se preocupe com a leitura. Uma iniciativa, que merece ser seguida em todo o país e acaba neste fim de semana na capital gaúcha é a 54ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, a qual tive oportunidade de conhecer e visitar na semana passada. E não estou falando de um evento destinado para quem tem condições financeiras ver ou que só comercializa porcaria. Nada disso. São quiosques e mais quiosques de editoras e livrarias (e etc.), vendendo livros a preços acessíveis à população. Os famosos balaios que o digam. Uma das principais atrações do evento literário, eles comercializam obras - inclusive de renome - a custo bem popular: R$ 3 e R$ 5, por exemplo. Nada de lugar fechado, com acesso pago. A feira acontece bem ao alcance de qualquer cidadão: na rua, no centro da cidade, e ocupa milhares de metros quadrados, oferecendo muitos atrativos paralelos à venda dos livros. Essa é apenas uma das ações que demonstram porque o gaúcho é o povo que mais lê no Brasil. Um exemplo simples e que merece ser seguido por todos.

12/11/2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

60 anos sem Monteiro Lobato: o patrono do imaginário infantil





Hoje (4), o Brasil e o mundo literário relembram a data que marca os 60 anos de morte de um dos mais importantes - se não o mais importante - escritores infanto-juvenis brasileiros e da América Latina. Trata-se de José Bento Renato Monteiro Lobato - ou simplesmente o jornalista, crítico de arte, ensaísta e polêmico Monteiro Lobato, cuja vida e obra ainda hoje servem de inspiração e exemplo para milhares de crianças, jovens e adultos.
Em pesquisa divulgada recentemente (Retratos da Leitura no Brasil), Monteiro Lobato foi apontado como o escritor mais lido do Brasil. Nacionalista convicto, o autor centrou a sua obra em personagens ligados à cultura brasileira, principalmente ao campo onde nascera e fora criado, misturados ao folclore brasileiro. Muitos deles de grande sucesso como Jeca Tatu, o Saci, Narizinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Emília e o Visconde de Sabugosa.
Jeca Tatu ganhou vida em 1917, a partir da indignação de Lobato com os constantes enfrentamentos com os cablocos da fazenda onde morava e dirigia. Preguiçoso e totalmente diferente dos caipiras idealizados pela literatura da época, Jeca Tatu gerou muita polêmica, por ser um personagem símbolo do atraso e da miséria que representava o campo no Brasil.
Mas foi por meio da série Sítio do Picapau Amarelo - um lugar no interior do Brasil e onde se passaram muitas das suas histórias infantis - que Lobato se consagrou no consciente das gerações que cresceram sob a influência da sua literatura. A primeira obra da série, A Menina do Narizinho Arrebitado ,foi publicada em 1920 e, a partir daí, outras tantos livros infantis de sucesso surgiram tendo como centro os personagens que viviam as histórias mágicas.


Fonte: Folha de Pernambuco