Mostrando postagens com marcador Biblioteca de Bete. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Biblioteca de Bete. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fora de mim



Eu sabia que terminaríamos, eu sabia que era uma viagem sem destino, sabia desde o início e não sabia, não sabia que doeria tanto, que era tanto, que era muito mais do que se pode saber, ninguém pode saber um amor, entender um amor, tanto que terminou sem muito discurso, foi uma noite em que você quase pediu, me deixe. Ora, pra que me enganar: você realmente pediu, sem pronunciar palavra, você vinha pedindo, me deixe, olhe o jeito que te trato, repare em como não te quero mais, me deixe, e eu, de repente, naquela noite que poderia ter sido amena, me vi desistindo de um jantar e de nós dois em menos de dez minutos, a decisão mais rápida da minha vida, e a mais longa, começou a ser amadurecida desde o dia em que falei com você pela primeira vez, desde uma tarde em que ainda nem tínhamos iniciado nada e eu já amadurecia o fim, e assim foi durante os dois anos em que estivemos tão juntos e tão separados, eu em constante estado de paixão e luto, me preparando para o amor e a dor ao mesmo tempo, achando que isso era maturidade. Que idiota eu sou, o que é que amadureci?

Nada, nem a mim mesma, jamais deixei de ter 10 anos, nem quando tive 30, nem quando fiz 40. Nunca tive idade, ela de nada me serviu, ser lúcida sempre foi apenas uma maneira de parecer elegante, uma estratégia para a convivência. Você lembra como eu chorei aquela noite, lembra do fim, você não pode ter esquecido aquela cena, entramos em casa sem acender as luzes, você olhando para fora da janela enquanto eu derramava toda a minha frustração e meu desespero, como se a culpa fosse minha e não sua, ou fosse sua e não minha, como se existisse culpa para o término de um relacionamento que simplesmente não tinha mais combustível, nem mais estrada. Faz quanto tempo desde aquela cena? Eu consigo enxergá-la por vários ângulos, vejo você de costas pra mim, parecia um soldado, tão ereto, em vigília de si mesmo, querendo saltar do terceiro andar, sair sem precisar passar pela porta, sem passar pelo adeus, e eu, curvada, amparada em algum móvel, demolida, e então, na cena seguinte, nós de frente um para o outro, mas com as cabeças abaixadas, você não queria ver meu rosto, e eu estava espantada com o seu, tão sereno, aliviado, quanto tempo faz, 15 minutos, vinte minutos desde que você saiu aqui de casa? Eu ainda estava quieta agora há pouco, eu ainda estava sem pensar e sem sentir, de repente me deu uma calma, nenhuma desgraça aconteceu, você desceu pelas escadas, eu fechei a porta do apartamento e não chorei mais, eu vi pela janela o seu carro saindo da garagem e não chorei, eu fui para o banheiro escovar os dentes, acho que escovei os dentes, não lembro, e botei uma camisola e fui pra cama e não chorei, não pensei, não senti, não chorei, entendi, não entendi, não pensei, não sei, acho que dormi.

Você não ligaria no dia seguinte, era domingo, fui até a cozinha lavar a louça, mas não havia louça para lavar, o combinado era jantarmos fora na noite anterior, não jantamos, ninguém se alimentou, quanto tempo faz desde aquela noite, parece um século, foi ontem. Decidi seguir a rotina: o que eu fazia aos domingos de manhã?

Eu caminhava, eu ia ao parque, então caminharei, mas falta você, coloquei o tênis, saí a pé de casa, falta você e não falta, o estrondo está diminuindo, o barulho cessou, será que eu já percebo o acidente? Dou uma volta no parque, duas voltas, três voltas, você não virá aqui me ver? Volto. Telefono pra minha mãe, não telefono pra você, conto pra ela que acabamos, meu relato é muito coerente, ela lamenta mais ou menos, já ouviu eu contar essa história antes, somos reincidentes em finais, mas agora é pra valer, quem me acredita? Eu não me acredito, mas agora não te quero mesmo, e eu já ouvi isso antes, de você, de mim, agora não tem mais volta – dei tantas voltas no parque, é tão ridículo caminhar pra lugar nenhum, para quem vou ficar magra e saudável? E voltei a dizer: não, mãe, acabou de verdade, e pela primeira vez reparei em minha voz tremida, pela primeira vez naquele domingo eu fraquejei, as palavras saíram entrecortadas, eu catava as sílabas que me fugiam, e ela do outro lado da linha fingia que não doía nela também.

Liguei o computador, escrevi, que é como organizo meu pensamento, escrevi e parecia que eu estava ditando a mim mesma um texto requentado, agora acabou, agora é comigo, sei que vou conseguir, tenho meus motivos, e me dei várias explicações, tentei me convencer, eu estava tão racional, tão genial, eu quase consegui, e não almocei, zanzei pela casa, tomei um banho, troquei de roupa, tirei suas fotos dos porta-retratos e desabei pela segunda vez, a primeira sem que você testemunhasse.

Guardei na gaveta aquela fotografia em que você estava de boné, parecia um garoto, me agarrando pela cintura. Guardei todas. Aquela outra, nós dois, eu de novo enlaçada por você. E uma de você sozinho, um flagrante, você não percebeu, bati a foto enquanto você lia o jornal, tão lindo, você era tão lindo, você ainda é o mesmo homem depois de ontem, o mesmo homem sem mim? Eu me olho no espelho e não me enxergo, não sou mais a mesma, perdi a identidade. Tirar suas fotos de vista me pareceu uma providência curativa, agora você não o verá mais, querida, vai esquecê-lo mais rápido, como somos inocentes. E eu lá quero esquecê-lo? Sua presença ainda está tão quente dentro desse apartamento, o colchão ainda está meio afundado do lado em que você dormia.

Não sei se as pessoas choram de forma diferente umas das outras, eu choro contraída, como se alguém estivesse perfurando minha alma com uma lâmina enferrujada, choro como quem implora, pare, não posso mais suportar, mas o insuportável é uma medida que nunca tem limite, eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais, eu sofria minha própria despedida, morte e parto, eu tinha que renascer e não queria, não quero, sinto que caí num vácuo, perdi a parte boa da minha história, e não quero outra, enquanto choro penso que se alguém me visse chorar dessa maneira me salvaria, prestaria socorro, chamaria uma ambulância, eu nunca vi você chorar, você alguma vez chorou por mim, você sofre a minha ausência, sente minha falta? Estar sozinha nessa aflição me condói de mim mesma, é o labirinto do inferno, não há saída, não há saída, você não está me esperando lá fora, nem hoje, nem amanhã, você não vai fazer nenhum gesto para me resgatar, e se fizesse, eu não estenderia minha mão, e é isso que me faz descrer de tudo, eu sei que acabou, eu estava infeliz ao seu lado, eu estou infeliz sem você, mentira, eu era feliz ao seu lado, e nem sei se a palavra é essa, feliz. Felicidade é um resumo fácil, uma preguiça de investigar o muito mais que nos ergue diariamente, na época era o que me bastava, eu sabia onde estava e com quem, eu não estou infeliz, eu só estou perdida e não consigo mandar nenhum S.O.S., ninguém sabe onde estou, largaram meu corpo em cima dessa cama e ninguém me procura.

Choro, choro muito, choro agora feito uma guitarra dedilhada por um bêbado, sinto uma piedade inconsolável de mim, de tanto que recordo o quanto te quis e o quanto te admirei por amares a mim, era paixão inveterada, paixão de doer, paixão de não dar certo mesmo, paixão de perder o tino, e perdi por completo, hoje tento compreender duas ou três frases e nem isso me cabe, ficou tudo sem lógica, eu que prezo tanto a lógica, não entendo mais nada, mergulhei no escuro da minha perplexidade, você era meu até bem pouco tempo, mas vou sair dessa, veja, já estou enxugando as lágrimas, procurando meu celular para fazer uma ligação qualquer, esses compromissos que a gente inventa para fingir que a vida continua. Marquei hora no cabeleireiro sem ter motivo algum pra ficar bonita.

Não consigo mais ser uma pessoa comum, dessas que conseguem ver uma novela sem se afligir e que dirigem prestando atenção apenas nos sinais de trânsito, agora eu só assisto à tevê com o controle remoto na mão para que eu possa trocar de canal a qualquer indício de que virá cena de beijo, não consigo ver um homem e uma mulher se amando, é como se fosse uma agressão pessoal, vamos massacrar essa coitada, vamos fazê-la lembrar, mas não, eu não fico lembrando de nós dois, é muito mais torturante que isso, eu fico imaginando você com outra mulher, você beijando outra mulher, e isso me dá uma náusea que quase me faz desmaiar, fico em posição fetal, eu penso que vou ficar louca, como se já não estivesse, eu não posso ver uma foto de mulher bonita que já imagino o quanto você vai se interessar por ela, e vai desejá-la, eu passei a ter ódio de todas as mulheres que cruzam seu caminho, meu caminho. E no trânsito, eu só tenho olhos para as placas dos carros que são da mesma cor e marca que o seu, e quando um se aproxima eu rogo a Deus para que não seja você, e ao mesmo tempo quero que seja, e às vezes consigo não olhar, me sinto tão valente, consigo por minutos olhar só em frente, não reparo em nenhum veículo a minha volta, é como se estivesse sozinha na avenida, e é nessas horas que corro o risco de bater, eu acelero sem perceber e depois freio muito em cima dos outros carros, eu saio da minha pista sem sinalizar, eu esqueço pra onde estou indo, eu vejo você caminhando
pelas calçadas e não é você, de repente todos os homens do mundo ficaram idênticos a você, e eu ainda não me envolvi num acidente por um triz, ou talvez já esteja mais do que acidentada para ainda ter que enfrentar essa dor na carne, de verdade, sem ser apenas uma metáfora. Evito olhar os casais de namorados nas paradas de ônibus, e tem um painel publicitário em que um homem olha para uma loira com um desejo tão escancarado que me retorço e choro só de imaginar você olhando assim para outra mulher, e eu sei que você está, ninguém precisa me contar, eu sei como é que você se cura, se trata, você não chora nem lamenta, você volta pra rua, você vai atrás de todas as mulheres nuas feito um vira-lata, você está olhando nesse instante para outra mulher, está entrando nela, dizendo a ela como ela é gostosa, você está me matando dentro de você, e eu morro a quilômetros de distância, a sós comigo mesma, você transa com outra e me mata, você goza e me mata mais um pouco, você dorme e me deixa insone pra sempre, eu sei que não vai ser pra sempre, mas eu não enxergo o dia de amanhã, hoje eu só estou acordada pro eterno desse pesadelo, você era meu, droga, exclusivamente meu até dias atrás, meu como esse sofrimento.

Trecho do livro Fora de mim (Editora Objetiva, 126 págs.)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Biblioteca de Bete IV


Muito marcante esse livro,muito triste e verdadeiro,mostra a dura realidade dos menores "despejados" na antiga FEBEM (esse BEM significava bem-estar do menor),que em vez de amparar,educar,ressocializar,era uma câmara de torturas e fábrica de revoltados e marginais.Sempre gostei de ler,era sócia do Círculo do Livro e comprei vários bons livros nessa época. Recomendo!História verídica,inspirou o filme VERA,rendeu prêmio a Ana Beatriz Nogueira,que interpretou Herzer.Confira o discurso de Eduardo Suplicy no Senado:


"Quando deputado estadual, entre 1979 e 1980, fui convidado pela Srª Lia Junqueira, Presidente do Movimento em Defesa do Menor, para conhecer os inúmeros desvios de procedimentos que ocorriam na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor Febem, em São Paulo nas unidades da Imigrantes, do Pacaembu, do Tatuapé, que é masculina, e da Vila Maria, que é feminina, além de outras. Verifiquei que havia inúmeras queixas e continua havendo até hoje, 20 anos depois de maus-tratos de menores, de abusos por parte dos responsáveis ou dos monitores, dos vigias, inclusive com respeito ao que ocorria, por exemplo, com as adolescentes, em virtude dos procedimentos dos responsáveis pela Febem. Certo dia, Lia Junqueira convidou-me para conhecer uma moça que desde os 14 anos estava na Febem na época, já estava com 17 anos e meio , explicando-me que, se alguém se responsabilizasse por encontrar algum trabalho para que ela pudesse garantir sua moradia e alimentação, ela poderia sair da Febem. Resolvi escrever ao juiz, o qual autorizou a saída dela. Ao contar-me essa moça a sua história, observei sua qualidade de escritora de poemas. Eu lhe disse que a história dela era tão relevante que seria interessante publicar não apenas os seus poemas, mas também sua própria história. Convidei-a para trabalhar em meu gabinete, ainda que por modesta remuneração. Dei-lhe a função de ajudar em todas as tarefas do gabinete, para aprender, mas ressaltei que sua principal tarefa seria a de escrever um depoimento sobre sua própria vida.
Algum tempo depois, ela encaminhou seus trabalhos para Rose Marie Muraro, responsável editorial da Editora Vozes, que se entusiasmou com eles. Assim também ocorreu com Leonardo Boff, que se emocionou com a leitura do trabalho. Mais de 27 edições foram publicadas desde então. A obra dela é lida, sobretudo, pelos jovens das áreas carentes, nos bairros de São Paulo. Para que se tenha uma idéia da força desse texto, Senador Maguito Vilela, gostaria de lhe transmitir que, em 05 de agosto de 1980, depois de a autora já ter esse livro pronto, faltando apenas ser impresso e divulgado, chegou ela ao meu gabinete e disse-me que estava muito preocupada, angustiada e entregou-me a seguinte poesia:

Minha Vida, Meu Aplauso

Fiz de minha vida um enorme palco
sem atores, para a peça em cartaz
sem ninguém para aplaudir este meu pranto
que vai pingando e uma poça no palco se faz.
Palco triste é meu mundo desabitado
solitário me apresenta como um astro
astro que chora, ri e se curva à derrota
e derrotado muito mais astro me faço.
Todo mundo reparou no meu olhar triste
mas todo mundo estava cansado de ver isso
e todo mundo se esqueceu de minha estréia
pois todo mundo tinha um outro compromisso.
Mas um dia meu palco, escuro, continuou
e muita gente curiosa veio me ver
viram no palco um corpo já estendido
eram meus fãs que vieram pra me ver morrer.
Esta noite foi a noite em que virei astro
a multidão estava lá, atenta como eu queria
suspirei eterna e vitoriosamente
pois ali o personagem nascia
e eu, ator do mundo, com minha solidão...
morria!
Anderson Herzer

Disse-lhe que parecia que ela estava pensando em morrer, ao que ela me respondeu que era apenas força de expressão. Todavia, duas semanas depois, eis que ela se joga do Viaduto 23 de Maio, vindo a morrer no Hospital das Clínicas. Uma pessoa a encontrou estendida no asfalto, com uma estrela do PT na lapela do seu terno, muito ferida e com graves lesões na bacia, infelizmente. Ela tinha um ideal, conforme consta de sua breve autobiografia escrita no livro Versejando, com dados que assim forneceu:
Anderson Herzer, jovem poeta, escreve desde os 12 anos de idade, e brevemente verá o seu ideal realizado, através do seu primeiro livro. O livro contém denúncias sobre a Febem, onde esteve. O principal tema do livro é tentar diminuir as violências, corrupções e a morte de menores, que necessitam apenas de amor, compreensão e não serem massacrados pela sociedade.
Ela, em seus poemas, narrava histórias de pessoas que haviam se perdido por alguma razão. Ela escreveu sobre sua mãe e que nasceu em Rolândia, no interior do Paraná. Certo dia soube, pela correria em sua casa, que seu pai, dono de um bar, havia sido assassinado com um tiro no pescoço por motivo de vingança. Descreve que sua mãe, então, não tendo como sobreviver, acabou sendo de Pedro, de João, de Manoel, ou seja, de ninguém e, por se prostituir, acabou ficando doente e faleceu.
Sr. Presidente, note que aqui ela estava, provavelmente, escrevendo para sua mãe:

Prostituição e o Fim da Vida


Se na madrugada triste você chorou,
se em um canto seu prato derramou
e se para mim, me contasse sua vida
eu conseguiria lhe mostrar aonde errou.
Olhar em seus olhos e vê-los sorrindo,

beijar sua boca, lhe abraçar, lhe sentindo
acariciar sua face e todo seu corpo
e do meu amor sincero ir lhe cobrindo.
Deitar-lhe no solo frio e deixar que seu corpo todo
toque nas regiões sombrias,
com gosto de vida e morte de fogo.
Puxar você pelo braço e deitar-me a seu lado
e mostrar-lhe que te amo, esquecendo seu passado.
Seu passado forte e errado
que marcou sua vida de mulher,
uma mulher que luta por um amor
que mesmo pecando, ainda quer.
Venha cantar a sua canção aqui
e a dedique a quem você amou,
cante tudo o que fez na vida
e diga a todos que você pecou.
MULHER...
Você errou no destino puro,
pôs em jogo uma vida alheia
mas pode se recuperar agora
pois sua vida, você mesmo semeia.
Você defrontou-se com a noite fria,
deitou seu corpo a quem quisesse usar,
mas ninguém sabia que você, mulher,
era humana, e também precisava amar.
Agora que se arrependeu, antes de fechar os olhos,
e que sua vida Deus vai levar
explique a Ele o porquê da vida e a morte,
tenha certeza Ele vai te perdoar.

Ela, tantas vezes, disse das coisas que eram importantes para as pessoas que, de alguma forma, encontravam-se muito sós neste Brasil. Foi dura com seu pai ou com seu novo pai. Conta, neste livro que mostra a maneira como as pessoas acabam indo parar na Febem, como ela foi adotada por sua tia e um tio bem mais velho, o qual, infelizmente, certo dia resolveu tentar acariciá-la, violentá-la. Com ele, então, ela lutou, acabando por quebrar o próprio braço. Ela soube dizer das vozes daqueles que, em muitos lugares, vivem tão sós e nem sempre têm o direito à vida com dignidade.
Para encerrar, Sr. Presidente, lerei apenas mais um poema de Sandra Mara ou Anderson Herzer.

Mataram João Ninguém

Quando o próximo sangue jorrar
daquele por quem ninguém irá chorar,
daquele que não deixará nada para se lembrar
daquele em quem ninguém quis acreditar.
Quando seus olhos só puderem fitar o escuro
quando seu corpo já estiver inerte, frio e duro,
quando todos perceberem morto João Ninguém
e quando longe de todos ele será seu próprio alguém.
Tantas mãos, tantas linhas incertas,
tantas vidas cobertas, sem ninguém pra sentir,
Tantas dores, tantas noites desertas
tantas mãos entreabertas, sem ninguém pra acudir.
Qualquer dia vou despir-me da luta
pisar em coisas brutas, sem me arrepender.
Tão difícil ver a vida assassinada
quando estamos já tontos pra tentar sobreviver.
As perguntas sem respostas, sem nada,
as vidas curtas e desamparadas
o último grito que não foi ouvido
calaram mais um homem iludido.
E no mundo não dão mais argumentos
pra fugir aos lamentos
De quem sozinho falece.
de quem sozinho falece.
Para esses, não há mais compreensão,
não há mais permissão, para que se tropece.
Na televisão, o aguardo da cotação
um instante ocupado, para dizer morto João Ninguém
mas a aflição ataca, a cotação subiu ou caiu?
e João morreu... ninguém ouviu.
Eu vou distribuir panfletos,
dizendo que João morreu
talvez alguém se recorde
do João que falo eu.
Falo daquele mendigo que somos
pelo menos em matéria de amor,
daquele amor que esquecemos de cultivar
o qual com tanto dinheiro, ninguém jamais coroou.

É a obra dessa jovem, que, até em face das circunstâncias, acabou se transformando mesmo na sua adolescência. Embora fosse mulher, passou a usar cabelo curto e roupas de homem. Em verdade, aqui está uma obra inteiramente dedicada ao objetivo de que todas as pessoas no Brasil, sobretudo os menores, as crianças, venham a ser tratadas com dignidade e como seres humanos. "


PronunciamentosTexto integral

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores /SP)
Data
05/12/2000
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso


http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronunciamento/detTexto.asp?t=313288

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Biblioteca de Bete III


Muito pequena (muito nova,antes que alguém me corrija,porque pequena ainda sou,kkkkk)li esse livro e nunca mais esqueci. Não me lembrava da história,só sabia que que tudo florescia onde o garoto tocava, mas ficou uma memória afetiva,sempre falava dele com as pessoas e sentia muita vontade de relê-lo. Há uns 2 ou 3 anos uma colega mo emprestou. Confesso que não foi a mesma coisa,dessa vez o li com olhos e contexto de adulta,a magia da infância não estava mais presente! Mesmo assim recomendo essa leitura. Presenteiem as crianças com essa bela história e compartilhem dela também!

Tistu é um menino muito sortudo. Vive na cidade chamada Mirapólvora numa grande casa, a Casa-que-Brilha, com o Sr. Papai, Dona Mamãe e o seu querido pônei Ginástico. Eles são ricos pois o Sr Papai tem uma fábrica de canhões. Para grande decepção de todos, Tistu dorme nas aulas. Sr Papai resolve fazer com que Tistu aprenda as coisas vendo-as e vivenciando-as. As aulas serão com o jardineiro Bigode e com o gerente da fábrica de canhões, o Sr Trovões.
Na primeira aula, o jardineiro bigode descobre um dom fantástico em Tistu: o menino tem o dedo verde! Isto significa que, onde ele colocar o dedo, nascerão flores! Porém as pessoas grandes não iriam entender este dom. Seria melhor mantê-lo em segredo. Bigode se transforma no conselheiro de Tistu
Com o Sr Trovões Tistu conhece um pouco do lado triste do mundo: a miséria, a prisão, o hospital. Ele resolve alegrar estes ambientes colocando seu dedo lá, mas no anonimato. Para o espanto da população, o presídio ficou com tantas flores que as portas não conseguiam mais fechar. Mas os presos não queriam fugir, pois estavam maravilhados! As flores da favela absorveram o lamaçal e enfeitaram as casas, transformando a favela em atração turística. A menina do hospital, que antes contava os buraquinhos do teto para passar o tempo agora conta botões de rosas, que nascem em volta do seu leito. A cidade, e a vida das pessoas da cidade, mudaram completamente.
Tistu então conhece a fábrica do Sr Papai. Ele fica inconformado com o mal que os canhões e as guerras trazem. Secretamente, coloca o dedo nos canhões que estavam sendo enviados para uma guerra. Resultado: a guerra fracassa, pois ao invés de bombas, os canhões lançaram flores. A fábrica é arruinada. Vendo o desespero do sr Papai, Tistu resolve revelar que foi ele quem colocou as flores nos canhões e prova isso fazendo nascer uma flor no quadro de seu avô, na parede. Sr Papai resolve então transformar a fábrica de canhões em fábrica de flores. A cidade passa a se chamar Miraflores.

Para saber mais,só lendo o livro!!!

Biblioteca de Bete II



Este é mais que um simples livro. Estas são mais que meras palavras impressas. O Estudante é o grito desesperado de alerta para jovens, pais, professores, qualquer pessoa que pode, a qualquer momento, se tornar vítima das drogas. É o relato de um jovem que teve seu lar destruído pelo fantasma da droga, que não respeita idade, classe social, religião e raça. Muitos leitores poderão achar o conteúdo deste livro chocante e brutal, mas não devem se esquecer de que a realidade aqui escrita é muito mais. Um livro que não pode deixar de ser lido por todos que abominam o caminho da miséria e degradação para o qual os jovens são arrastados pelo vício das drogas.
Retirado de : http://www.americanas.com.br/AcomProd/1472/517289

Não lembro por que comprei esse livro,mas sei que era adolescente e amei a leitura,apesar de ser muito triste a história e não ser ficção. O que tenho é o da capa com corrente. Não me canso de recomendar essa leitura a todos que conheço.Dei o livro na mão do meu filho mais velho,hoje com 17,há uns dois anos e ele "devorou". Não consegui que o caçula,15, lesse mas já falei várias vezes e continuarei tentando.Leiam,presenteiem,divulguem!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Biblioteca de Bete I





Tive a ideia de falar sobre alguns livros que li (e gostei) para animar outros a ler também!Começo por uma autobiografia do irmão do cantor Toquinho. Li há muitos anos e gostei muito. O que tenho é o da capa bem colorida. Procurando algo sobre o livro,encontrei palavras do próprio autor e compartilho com todos!Leiam!Quem lê,viaja!

João Carlos,Márcia e Marina


Nasci em 1942 e ainda desfrutei de uma infância de rua, espaços de terra e grama. A turma da rua de casa, a turma da rua de cima, a boa rolando nos campos da várzea.
Fui um garoto transbordante de energia infantil, um adolescente comportado , objeto e objetivo de muitos casos de amor, sonhados e vividos. Participei de uma juventude que transmudou da Bossa Nova para os Beatles , de Juscelino para a Repúlbica Militar. Vi nascer ao mesmo tempo Pelé e Brasília.
Filho de uma família de classe média, carregava comigo anseios fundamentados em realizações e profissões padronizadas. Aos 23 anos , completei o curso de Ciências Contábeis Econômicas na PUC e com quase 26 anos chegava até o 5º ano de Direito na USP .
Então, a vida me ofereceu caminhos novos , através de uma guinada aparentemente cruel : A paraplegia , causada por um acidente de automóvel na Via Dutra em 1968. A partir daí a inércia física aflorou em mim valores muito mais sensíveis . E me aprofundei como autodidata , pelos caminhos da pintura.
Expus quadros na Praça da República , aprendi a discernir em função da simplicidade e da humildade do homem da rua. Evolui e valorizei minha arte . Participei de Salões de Pintura e ganhei alguns modestos prêmios. Com várias exposições individuais e coletivas hoje faço da pintura um trabalho , uma brincadeira vibrante e gostosa , uma necessidade cotidiana, um amor a mais em minha vida.
O Outro amor é a literatura, meu primeiro livro , " Minha Profissão é Andar " foi o precurssor no Brasil , da literatura produzida por deficientes físicos ou pessoas a eles ligadas. A partir dele muitos outros vieram !
Acho a vida uma descoberta perene , um conflito incessante , um intrigante enigma que nos desafia a cada passo. Existir é poetar esse universo árido com dedicação de amor às coisas e às pessoas. É saber encontrar frestas de luz que nos tornem ansiosos a ponto de encontrarmos a tranquilidade. E uma dessas frestas , a mais sublime até hoje em minha vida , ascendeu-se em 14 de Agosto de 1996 , e chama-se MARINA , gerada por mim e Márcia e nascida doce , delicada e linda. Mais um presente que a vida me oferece nessa sucessão incrível de constantes privilégios.
João Carlos Pecci

Dos seus livros, o mais conhecido é Minha Profissão é Andar. O que você conta nesse livro?

João Carlos Pecci: O título já diz, é irônico, minha profissão é andar. Eu continuo andando, não pisando o chão, mas através de conquistas de objetivos alcançados no setor do amor, no setor do trabalho e no setor do lazer também.Eu me tornei um artista plástico, um escritor, eu me casei, eu consegui fazer uma filha , coisas às vezes tida como impossíveis para um deficiente físico. Então a vida me proporcionou esses andares, muito mais complementares de uma relação humana do que apenas pisar no chão.

Quadros de Pecci