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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dor da perda

Não existem palavras, línguas, gestos ou mesmo pensamentos que possam expressar a dor da perda. Ela é tão profundamente dolorida e fere a alma com esmero desmedido, cortando lenta e dolorosamente com o lado cego da faca.
A dor é fenomenal, incrivelmente dor, extraordinariamente dor, fatalmente dor. É dor, dor, dor, somente dor. E não cede, não acalma, não dá trégua. E a alma se contorce, revolve, chora, berra e geme em lamentos surdos, que tomam o corpo, que fazem cambalear e entontecer o espírito.
A dor da perda não tem som, não tem voz, e invade o âmago do ser silenciosa e cruelmente fazendo doer e adoecer o corpo. Massacra a alma a tal ponto de tudo ao redor perder o sentido. Tudo. Tudo perder o sentido e o brilho da vida.
Os olhos olham mas nada veem, os ouvidos ouvem sem nada ouvir, os braços caem sem sentir qualquer amparo, qualquer sussurro de compreensão, de entendimento. Somente o gosto do sangue da dor é percebido no fundo do coração que sangra, falece e se afunda no fundo da terra, do pó.
E tudo vira dor profunda e cortante como o fio de uma navalha. Os sentidos perdem a razão de ser. Robotizamos o corpo e caminhamos, perdidos e anestesiados de lá prá cá, de cá prá lá, desnorteados, confundidos, atordoados e completamente perdidos de nós mesmos. Esquecidos de tudo e de todos, menos da dor que rasga, dói e arranha o coração até o sangue jorrar em lágrimas profusas e gritos inaudíveis.
A dor da perda cala fundo e faz sepultura da alma onde desejamos ardentemente nos enterrar, em silêncio absoluto, em escuridão infinda, em adormecer eterno. Faz desejar a morte e buscar o fim de tudo, inclusive de si mesmo, para calar... a dor...
Não existem palavras que definam a intensidade da dor da perda. Ela é tão incrivelmente dor que perdemos a definição e a expressão do que sentimos. Nada mais importa. Nada. A dor da perda é pesada demais. Impossível de se carregar solitariamente.
Por isso, por tudo isso, havemos de buscar forças para suportar a dor da perda, por mais profunda, pungente e dolorida que seja, por mais aterradora e insensível...
Havemos de nos resguardar da dor, de acordar e lutar para viver, mesmo a alma em soluços, mesmo que o espírito, anestesiado pela dor, perca a vontade de lutar e continuar a viver... havemos de nos resgardar da dor no alento dos braços do amor, que é o único que torna possível tudo, por ele, com ele, suportar..

domingo, 17 de abril de 2011

Nada na vida acontece por acaso

  
Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:
- Pai, tô com fome!
O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência...
- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!
Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria a sua frente.
Ao entrar dirige-se a um homem no balcão:
- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome, não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para buscar um emprego e nada encontrei, eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar!
Amaro, o dono da padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho.
Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo.
Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua.
Para Agenor , uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.
Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada.
A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades.
Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:
- Ô Maria! Sua comida deve estar muito ruim... Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato?!?!
Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer.
Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho.
Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas.
Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório.
Agenor conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos "biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada.
Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na padaria, e penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias.
Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.
Ao chegar em casa com toda aquela 'fartura', Agenor é um novo homem sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso.
Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores.
No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho.
Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia porque estava ajudando.
Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa.
E, ele não se enganou - durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.
Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.
Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta.
Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula.
Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro.
Ao meio dia ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o 'antigo funcionário' tão elegante em seu primeiro terno.
Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço.
Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um.
Contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.
Ricardinho, o filho, mandou gravar na frente da 'Casa do Caminho', que seu pai fundou com tanto carinho:
'Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!'
(História verídica)
"antes de magoar um coração, veja se você não está dentro dele"

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Uma escola especial

Crianças com câncer não perdem a chance de continuar aprendendo,mesmo nos momentos mais difíceis

Se qualquer probleminha é um motivo para você faltar à escola, saiba que tem uma galerinha com doenças gravíssimas que luta pela vida e ainda conta as horas para assistir aulas numa salinha bem especial
Juliana Godoy//Especial para o Diario
julianagodoy.pe@diariosassociados.com.br



Maria Ednalda

Com muita vontade de viver e APRENDER



Alisson Sebastião da Silva, 11 anos, está na 2ª série, adora ciências, mas seu forte mesmo é o português. "Adoro ler". Foto: Jaqueline Maia/DP/DA Press

Maria Ednalda da Silva já tem sete anos, mas nunca aprendeu a ler. Ela ainda não frequentou uma escola. Pelo menos não uma como a sua, cheia de salas, com quadra e espaços para brincar. Isso porque Ednalda sofre de uma doença grave, que deixa as pessoas bem fraquinhas e sem poder ir para a sala de aula comum. Para se tratar, ela precisou sair de sua cidade, Caruaru, e vir para o Recife. A escola que ela está hoje não é tão diferente das escolas que vemos por aí. É apenas menor. Na verdade, é mais uma sala de estudos. Tem duas mesinhas, por onde os alunos de séries diferentes se espalham, várias cadeiras com apoio, lápis para colorir e muitos, muitos livros nas prateleiras. Foi lá que a pequena aprendeu como juntar as letrinhas e ver uma palavra se formar. Foi lá também que Maria Ednalda fez muitos amigos, que assim como ela sofrem de câncer - doença que prejudica as células -, mas que querem aprender algo novo a cada dia. Essa escola tão especial fica dentro do Núcleo de Apoio à Criança com Câncer, o Nacc. A equipe do Diarinho foi até lá para conferir de perto como é um dia de estudo na vida dessas crianças. Presenciamos, inclusive, o primeiro dia de aula de alguns desses alunos.Na sala de Maria Ednalda não existe um número fixo de crianças. A cada dia é uma turma diferente. Sempre falta um que ficou mais fraquinho depois do tratamento ou chega alguém novo para iniciar um. "Elas não são obrigadas a vir para a sala por conta do tratamento que fazem. Elas tomam muitos remédios e às vezes ficam cansadas", explica "tia" Cristiane Teixeira, que acompanha a turminha de Ednalda há dois anos. Mas alguns, mesmo indispostos, fazem questão de ir à aula. Eles não querem perder nem um segundo do aprendizado. "Quando eles chegam aqui é com muita vontade de aprender. Eles não querem ficar para trás da turma que deixaram na escola de origem", conta Cristiane. Esse é o caso de Alisson Sebastião da Silva, 11 anos, que veio do interior do estado quando começava a 2ª série. Alisson adora ciências, mas seu forte mesmo é o português. "O que gosto mesmo é de ler e aqui eu posso continuar lendo", afirma Silva. Além de ler, o pequeno aproveita os intervalos para brincar e rir muito com os coleguinhas. Não é porque está doente que ele deixa de ser criança. "A gente se diverte aqui, ganha brindes, visitas de pessoas de fora", conta.Durante as aulas do Nacc a leitura é muito exercitada, mas tem também matemática, ciências, contação de histórias, interpretação de textos e, claro, também a produção deles. Igualzinho a uma escola regular. O que muda é a dificuldade das tarefas, que vai depender da série do aluno. "Procuramos fazer atividades que todos possam realizar, mas também fazemos um acompanhamento mais individual", diz tia Cris. Luana Souza Carvalho, 7 anos, por exemplo, está na primeira série, mas na mesa que ela senta também está Riobis Rhudá, 4 anos, que veio do Rio Grande do Norte com a família para se tratar. Rhudá ainda não conheceu a escola que você conhece, mas no Nacc ele dará seus primeiros passos no aprendizado das letras e dos números. Mas mesmo estando em séries diferentes, isso não impede que Luana aprenda os assuntos da 1ª série. Pelo contrário. Ela ganha conhecimento ajudando os outros coleguinhas. "Aqui a gente brinca e aprende uns com os outros", conta Luana. "Todo mundo da sala sabe tudo sobre o outro. Sabem de onde vêm, do que mais gostam, qual a sua doença e procuram se ajudar quando precisam", afirma Cristiane.Por essa proximidade é que sempre que um vai embora, seja para sempre ou apenas de volta para sua cidade natal, é difícil para todo mundo. Mas quando chega alguém novo é sempre uma festa. No dia em que o Diarinho conheceu essa escola tão especial, José Thiago Caetano de Souza, 9 anos, estava tendo seu primeiro dia de aula lá. Ele estava tão enturmado que nem parecia um novato no meio de todos. "A única diferença que vi para a escola que estudava antes é que lá tem mais gente do que aqui. Fora isso é igual", diz Souza. E é realmente tudo muito parecido. Nas paredes da sala estão alfabetos e sílabas de palavras, enquanto um globo geográfico ocupa um canto, um esqueleto de ciências ocupa o outro. Nas prateleiras muitos livros, hidrocores, lápis de cera e papel. Para quem não está muito disposto para a aula, mas quer estar na sala, as "tias" dão a opção de pintar ou brincar com massinha de modelar.

Êpa, vai passar!

A essa altura você deve estar curiosa para saber o que é câncer. Esta palavrinha pequena representa uma doença muito chata, malvada, que faz as células do corpo doentes se multiplicarem bem "bagunçadas" e muito rápido. Você já pode ter visto isso nas aulas de ciências/biologia ou logo logo verá. Ela prejudica o nosso organismo e o tratamento serve para destruir essas células e ainda impedir que elas continuem crescendo. Se tem alguém na sua família com esta doença ou um amigo, saiba que ela tem cura e que cada dia mais os médicos sabem como fazer isso. O mais importante é acreditar, ter esperança e gostar da vida. Este é um grande e importante remédio. E nada de ter medo, pois ela não é contagiosa (quer dizer, ela não pega não). Ao contrário, os doentes precisam da sua alegria e de muita companhia. (Lúcia Guimarães)

Com o dinheiro do imposto
A escola hospitalar, como é chamada sala de aula, é uma inciativa do governo para que as crianças com doenças mais graves, como o câncer, não parem de estudar nem quando estão internadas ou fazendo tratamentos, já que maioria é do interior do estado. Isso é possível por causa dos impostos que seus pais pagam. É uma das maneiras de se aplicar o dinheiro, na educação. É como no seu prédio - eles pagam o condomínio para ter água, segurança e energia. Mas infelizmente, ainda são poucas as escolas desse tipo. Em Pernambuco, existem apenas duas salas de aulas "especiais". A do Nacc e a do Imip. Qualquer criança, desde que esteja em processo de cura, pode participar das aulas. Basta que os pais autorizem. "Na hora de voltar para a casa tudo o que foi aprendido durante a internação vai contar também na escola regular da criança", explica Cristiane Teixeira.O processo funciona mais ou menos assim: quando a criança é internada, a escola de origem manda toda a grade currícular, os assuntos que aquele aluno estudaria durante o período do tratamento para a professora da educação especial que, no caso do Naac. é Cristiane ou Maria Aparecida Lacerda. "Aí quando um aluno chega faz a Provinha Brasil para medir o nível de aprendizagem que ele está. Na hora de voltar para a escola regular a gente envia todas as tarefas que foram feitas e ele volta a estudar normalmente", explica Cristiane.





Para ensinar nas escolas hospitalares professoras têm que ter mais que conhecimento
Juliana Godoy//Especial para o Diario

julianagodoy.pe@diariosassociados.com.br

Uma tia especial

Tia Cris, como Cristiane Teixeira é chamada dentro da sala de aula, não escolheu o Nacc para trabalhar, mas Tia Cris, como é chamada, adora o que faz e passa com muito amor os conhecimentos aos seus alunos do Nacc. O resultado ela vê nos olhinhos de cada um. Foto: Jaqueline Maia/DP/DA Pressescolheu a educação especial como função. Durante muitos anos ela deu aulas para crianças com deficiências mentais ou com algum tipo de limitação. Mas há dois anos foi chamada para preencher o cargo no Naac. Ela conta que não existe nada mais gratificante do que estar lá. Na verdade, tia Cris representa aqui um universo ainda pequeno - mas importante - de educadores que se dedicam às crianças especiais ou em momentos de vida especiais."Você esquece o mau humor, passa a ser mais tolerante e percebe que seus problemas são muito pequenos perto do que essas crianças passam", afirma. Na sala de aula ela conta que encontra muito amor por parte de seus alunos e que é muito bonito ver a preocupação que um tem com o outro. "Eles se unem na dor e percebem que não são os únicos a enfrentar esses problemas. Mas eles não são menos felizes do que as outras crianças. Pelo contrário. O que eles têm é muita vontade de viver e aprender, porque sempre estão me cobrando tarefas", confessa. Para as crianças que têm oportunidade de ir a uma escola regular tia Cris aconselha a valorizar isso, a aproveitar essa escola. "Essas crianças (com câncer) são um incentivo para as outras verem como é bom aprender. Os meus alunos dão muito valor a isso para não ficarem para trás", aconselha.
Um vencedor
José Antônio Alves não é mais nenhuma criança. Tem 21 anos e um tratamento de câncer para contar. Nascido em Belém de Maria, no interior do estado, José precisou deixar sua escola de origem para fazer o tratamento de sua doença no Recife. A escola ficou para trás, mas não os estudos. Durante o período em que estava internado Alves frequentava a escola hospitalar e não se arrepende da escolha. "Sempre procurei vir às aulas, mesmo quando não estava muito disposto", conta. Apesar de ter atrasado um pouco os estudos, hoje José se prepara para enfrentar o vestibular. A carreira escolhida ele ainda não sabe. Mas está feliz de poder terminar o colégio com a ajuda do Nacc. "Era muito bom chegar na escola da minha cidade, mesmo depois de um tempo, e saber os assuntos como meus colegas de turma. Muitas vezes quando o professor passava a matéria eu já sabia, porque tinha aprendido enquanto estava internado", afirma.

DIARINHO,18/4/09