quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Viver não dói


Definitivo, como tudo o que é simples.Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.Por que sofremos tanto por amor?O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.Sofremos por quê?Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas; por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos; por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos. Por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.Como aliviar a dor do que não foi vivido?A resposta é simples como um verso:Se iludindo menos e vivendo mais!!!A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional. Fé é colocar seu sonho à prova!

Carlos Drummond de Andrade

(Republicado- fora postado em 24-5-08)
"Tirei você da minha vida, mas não quero esquecer que um dia você passou por ela"
Zayra Navarro

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DESPEDIDA- Martha Medeiros


Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro,com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,a dor de virar desimportante para o ser amado.Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,lembrança de uma época bonita que foi vivida…Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar.
É uma dor mais amena, quase imperceptível.Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou,
externamente,
sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente… E só então a gente poderá amar, de novo.

domingo, 26 de setembro de 2010

Coração doente



CORAÇÃO DOENTE
(Victtoria Rossini)

Ainda ontem amei com coração adolescente
Hoje só tenho esse órgão doente
Hermeticamente fechado
No éter e fora da visão

Pra que ele não acorde
Não seja chamado
Nem revinculado
Ao meu corpo desfigurado
Que deteriora
Caído
Oco
Na contramão

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O HOMEM, AS VIAGENS



O homem, bicho da Terra tão pequeno

chateia-se na Terra

lugar de muita miséria e pouca diversão

faz um foguete, uma cápsula, um módulo

toca para a Lua

desce cauteloso na Lua

pisa na Lua

planta bandeirola na Lua

experimenta a Lua

coloniza a Lua

civiliza a Lua

humaniza a Lua

Lua humanizada: tão igual à Terra

o homem chateia-se na Lua

Vamos para Marte, ordena à suas máquinas.

Elas obedecem, o homem desce em Marte

pisa em Marte

experimenta

coloniza

humaniza Marte com engenho e arte

Marte humanizado, que lugar quadrado

vamos a outra parte?

Claro diz o engenho

sofisticado e dócil.

Vamos à Vênus

o homem põe o pé em Vênus,

Vê o visto, é isto?

Idem

Idem

Idem

O homem funde a cuca se não for à Júpiter

proclamar justiça com injustiça

repetir a fossa

repetir o inquieto

repetitório

Outros planetas restam para outras colônias.

o espaço todo vira Terra-a-terra.

o homem chega ao Sol ou dá uma volta

só para te ver?

Não vê que ele inventa

roupa insiderável de viver no Sol

põe o pé e:

Mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado.

Restam outros sistemas fora

do solar a colonizar.

ao acabarem todos

só resta ao homem

(estará equipado?)

a dificílima dangerosíssima viagem

de si mesmo a si mesmo:

por o pé no chão

do seu coração

experimentar

colonizar

civilizar

humanizar

o homem

descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas

a perene, insuspeitada alegria

de con-viver.

(Carlos Drummond de Andrade)


terça-feira, 21 de setembro de 2010

O que é ilusão




ILUSÃO: "As vezes eu realmente odeio essa palavra, principalmente porque ultimamente ela tem sido bem presente.
Fase ? Que droga de fase é essa que nunca passa ??? To cansado disso, mania idiota de se encantar com as pessoas em 5 minutos e desencantar em 5 segundos... Uma verdadeira bolha de sabão, quando surge é linda, dá realmente pra pensar que é real, até a hora que você tenta tocá-la, aí desaparece como num passe de mágica e, pior ainda, se não tomar cuidado ainda espirra sabão no seu olho, o que arde demais !!!
De verdade tenho saudades dos tempos em que eu não vivia nessa montanha russa de sentimentos, que especial pra mim era uma pessoa só, tempos em que as minhas convicções sabiam por sí só lidar com todos os tipos de situações... Hoje eu não controlo o que eu sinto, me encanto por ilusões e as deixo dominar minhas atitudes... Odeio mais ainda o fato de me sentir como se tivesse 15 anos, me sinto ridiculo...
Mas vou continuar seguindo essa tal bolha, porque pior que perder o controle é ser coração gelado... E ainda há muito amor em mim.
Chega de jogos de ego, eles não levam a nada, chega de ser durão, cansei de ser sempre o lado forte da história, agora eu quero é pular... aonde eu vou cair ? não sei, já não preciso saber, se alguem que eu curta não estiver lá pra me amparar , certamente outra pessoa estará...Porque a vida é assim, pessoas vêm e vão, cabe somente a nós, valorizar quem é especial... E isso eu sei de longe, aliás sabia desde o começo, desde o primeiro "Oi"...


"Autor: Um amigo meu desiludido sentado numa mesa de bar"

Nando Stein

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Vendavais- Shirley Carvalhaes


Hoje alguém falou seu nome para mim
Que você está sofrendo tanto assim
Coração tá em pedaços
Foi vencido pelos laços desta vida
Foi arremessado contra o cais,
Açoitado pelos vendavais
Chora o peito, grita a alma procurando a paz

Mas eu sei, Jesus te olha e te vê
E diz: "Filho, vou te socorrer
Do pó das cinzas eu vou te levantar,
Sou o teu Deus, é só meu nome clamar
Sei que os sonhos se perderam no caminho
Estás sozinho e entregue a solidão
Sou o Deus que tudo pode e tudo vê,
Neste momento vou abençoar você"

O sorriso que havia em seu rosto
Pouco a pouco ele desapareceu
Diz que tudo está perdido,
Vai vivendo iludido em fantasias
Foi arremessado contra o cais,
Açoitado pelos vendavais
Chora o peito, grita a alma procurando a paz


domingo, 12 de setembro de 2010

Vento No Litoral- Legião Urbana




De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...

Agora está tão longe
ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim...

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você esta comigo
O tempo todo

E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem...

Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim

Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano
Era ficarmos bem...

Eieieieiei!
Olha só o que eu achei
Humrun
Cavalos-marinhos...

Sei que faço isso
Pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Bordado



Quando eu era
pequeno, minha mãe costurava muito.
Eu me sentava no chão,olhava e perguntava o que ela estava fazendo.
Ela respondia que estava bordando.Todo dia era a mesma pergunta
e a mesma resposta.
Observava seu trabalho de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada,
e repetia:
“Mãe, o que a senhora está fazendo?”
Dizia-lhe que, de onde eu olhava, o que ela fazia me parecia muito
estranho e confuso.
Era um amontoado de nós e fios de cores diferentes, compridos, curtos, uns
grossos e outros finos...
Eu não entendia nada.
Ela sorria, olhava para baixo e gentilmente me explicava: “Filho, saia
um pouco para brincar, e quando terminar meu trabalho eu chamo você e lhe coloco
em meu colo. Deixarei que veja o trabalho de minha posição.
Mas eu continuava a me perguntar lá de baixo:
Por que ela usava alguns fios de cores escuras e outras claras?
Por que me pareciam tão desordenados e embaraçados? Por que estavam tão cheios de
nós e pontos?
Por que não tinham ainda uma forma definida?
Por que demorava tanto para fazer aquilo?
Um dia, quando eu estava brincando no quintal,
ela me chamou.
“Filho, venha aqui e sente em meu colo”.
Eu sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado. Não podia
crer.
Lá de baixo parecia tão confuso!
E, de cima, eu vi uma paisagem maravilhosa!” Então minha mãe disse:
- “Filho, de baixo para cima parecia confuso e desordenado porque você
não viu que na parte de cima havia um belo desenho...
..Mas, agora, olhando o bordado da minha posição, você sabe o que eu
estava fazendo”.
Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:
“Pai, o que estás fazendo?”
Ele parece responder:
“Estou bordando a sua vida, filho”.
E eu continuo perguntando:
“Mas está tudo tão confuso...
Pai, tudo está desordenado.
Há muitos nós, fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido.
Os fios são tão escuros...
Por que não são mais brilhantes?”
O Pai parece dizer: “Meu filho, ocupe-se com seu trabalho,
descontraia-se...confie em mim. Eu farei o meu trabalho.
Um dia, colocarei você em meu colo, e então vai ver o plano da sua vida da
minha posição”.
Às vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas.
As coisas são confusas, não se encaixam
e parece que nada dá certo.
É que estamos vendo o avesso da vida. Do outro lado, Deus está
bordando...

Que Deus faça de sua vida um lindo “bordado”!