quarta-feira, 22 de abril de 2009

Câncer sem preconceitos


Capa do dia 29/03/2009 da editoria de Brasil




Câncer avança no país
Mais de 450 mil brasileiros vão receber a notícia de que têm um tumor maligno. O tipo mais comum da doença é o de pele não melanoma
Rodrigo Couto // Do Correio Braziliense
Brasília - Neste ano, 466.730 brasileiros receberão o diagnóstico de câncer. A doença, que avança em todo o mundo, deverá atingir 234.870 mulheres e 231.860 homens, segundo a estimativa mais recente do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A taxa de mortalidade dos portadores das chamadas neoplasias malignas está em alta, de acordo com o Ministério da Saúde. De 2000 a 2005, o número de óbitos em cada 100 mil provocados pelos mais variados tipos de câncer cresceu 14,5%, no caso de mulheres; e 11,4%, em relação aos homens. O alto índice de morbidade faz com que os tumores malignos ocupem o segundo lugar no ranking das doenças que mais matam no país, perdendo apenas para as complicações do aparelho circulatório.O tipo de câncer que mais vai afetar os brasileiros neste ano é o de pele não melanoma, com 115.010 incidências previstas. Em seguida, vêm os de próstata (49.530) e de mama (49.400). Entre as mulheres, depois do câncer de mama, o que terá mais ocorrências é o decolo de útero (18.680), e cólon e reto (14.500). Já entre os homens, os cânceres de traqueia, brônquio e pulmão (17.810) serão os de maior incidência, seguidos por estômago (14.080), cólon e reto (12.490), e cavidade oral (10.380).Para calcular a estimativa de novos casos, o Inca utiliza o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e os registros de base populacional, passados pelos municípios. Como somente 20 cidades brasileiras abastecem o banco de dados, não é possível fechar números concretos de incidência, apenas estimativas. Já a mortalidade é comprovada pelos atestados de óbito.Longevidade - De acordo com o oncologista Ricardo Caponero, do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, o aumento no número de casos está relacionado à longevidade da população, cada vez maior. Como um dos fatores de risco do câncer é a idade do paciente - quanto mais velho, maior a probabilidade -, é natural que a incidência cresça. "Para se ter uma ideia, calcula-se que, em todo o mundo,haverá o dobro de casos em 2023", diz. Caponero também explica que a cura de outras doenças que antes eram fatais, como a pneumonia, ajuda a elevar as estatísticas de câncer. O médico alerta que a doença também tem como causas a pré-disposição genética e a exposição ambiental a fatores como cigarro e poluição. Embora mudanças de hábitos possam ajudar a combater o aparecimento das neoplasias malignas, a medicina não conseguiu prevenir o surgimento do câncer.O diagnóstico precoce, um aliado na luta contra a doença, ainda é um problema no Brasil. De acordo com Caponero, o tempo médio de espera para o resultado de uma biópsia feita pelo Sistema Único de Saúde é de um mês. E, quando se trata de câncer, cada minuto é importante para o paciente. A rapidez no diagnóstico é fundamental para se chegar à cura da doença.Cautela - O oncologista do Hospital Sírio-Libanês Celso Massumoto observa que é preciso cuidado ao se falar na cura da doença. De acordo com ele, o acompanhamento do paciente deve ser permanente, paraevitar que o tumor sofra metástases e se torne reincidente, como o câncer do vice-presidente da República, José Alencar, que, desde 1997, já fez oito cirurgias para retirada de tumores malignos. Descoberto em 2006, o câncer na região abdominal foi responsável pelas últimas cinco operações.O equilíbrio emocional e a força de vontade de Alencar, que comoveu o país com suas declarações ao deixar o hospital, são fundamentais para o restabelecimento do paciente. A previsão do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para 2009 é de 466.730 novos casos de neoplasias malignas, grupo que reúne os vários tipos da doença. Na maioria das vezes, o tratamento com quimioterapia, radioterapia e novos medicamentos é eficaz, o que reduz consideravelmente a mortalidade. O dado mais recente do Inca mostra que 155.796 pessoas morreram de câncer em 2006.



O tumor mais temido entre as mulheres
Celso Calheiros // Diario
mailto:Diariocelsocalheiros.pe@diariosassociados.com.br


O fenômeno não é exclusivo no Brasil. O câncer é cada vez mais frequente nos diagnósticos em todos os recantos do mundo. No estado, os números seguem a nova regra mundial. E a depender do tipo de neoplasia, as perspectivas são mais alarmantes. De acordo com o chefe do setor de Mama do Hospital de Câncer de Pernambuco, Paulo Vicente de Oliveira Lima, 65 anos, o número de mulheres com tumor na mama deve dobrar nos próximos anos.A razão para o crescimento dos casos de câncer de mama está relacionada com os novos hábitos femininos, diferentes da rotina das mulheres de décadas atrás, quando os tumores nas mamas eram mais raros. "Hoje, a mulher participa mais da sociedade, trabalha, demora mais para ser mãe e, por isso, está mais exposta", conta Paulo Vicente.Ao desenvolver uma gestação, as mulheres se protegem do câncer de mama. No entanto, Paulo Vicente lembra que a média de filhos por mulheres na metade do século 20 era de seis. Atualmente,a média de filhos por mulheres é 2,6. A previsão é que tenha apenas um filho. E, como a mulher moderna decide ser mãe mais velha, "o número de diagnósticos vai crescer e a idade média da paciente vai ficar menor", prevê o oncologista. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o câncer de mama fez parte da rotina médica de 2.010 mulheres em 2008, praticamente o dobro do número de casos no cólo do útero (1.020). O tumor na mama só perde em incidência entre as mulheres para o câncer de pele não melanoma - o mais comum de todos os diagnósticos, independentemente do sexo. No Nordeste, foram mais de 26 mil casos. No Brasil, foram 115 mil.

Avanços - Se com o passar dos anos o câncer passou a ser um diagnóstico mais frequente, os novos tempos também trazem drogas muito mais eficazes no tratamento e equipamentos para possibilitar um diagnóstico preciso e em fase inicial. "As drogas estão muito mais eficientes", comenta Paulo Vicente. Agora, o chefe do setor de Mama do Hospital de Câncer prefere destacar, com ênfase, as novidades em termos de tecnologia, capaz de detectar tumores milimétricos. "Já fiz diagnóstico de tumor com 4mm. Dei o parabéns para a paciente".As felicitações de Paulo Vicente têm razão de ser. "Todos os tumores com menos de 1cm são curáveis, não tiram a mama, não necessitam de quimioterapia". Paulo Vicente vai além. Com a visão do administrador da saúde pública, onde os recursos são sempre insuficientes, ele defende gastos em campanhas pela prevenção e em máquinas capazes de identificar o câncer em seu estágio inicial. "As pacientes que têm seus tumores diagnosticados mais cedo têm um tratamento que representa 25% do que é gasto com o tratamento de tumores em estágio avançado", calcula. Diferentemente do que ensina a experiência dos atendimentos do Hospital de Câncer de Pernambuco, no estado faltam mamógrafos, o principal equipamento capaz de detectar o tumor em estágio inicial. "Mais da metade das mulheres no etado não tem acesso à mamografia - essa é a nossa realidade", atesta o oncologista Paulo Vicente.

Audinete comemora 11 anos de alta, depois de ficar nervosa e assustada. Foto: Cecilia de Sa Pereira/DP/D.A Press

Diante do mal, força para lutar
Audinete Oliveira de Assis tinha 44 anos quando ouviu, pela primeira vez, que tinha câncer de mama, em 1998.
"Fiquei nervosa, assustada, chorei muito". Diante do tumor, não se deu por vencida e procurou outros profissionais. De pelo menos três médicos, ouviu prognósticos rigorosos, que falaram da necessidade de se fazer quimioterapia e, possivelmente, de fazer a mastectomia.Diagnóstico e perspectivas fizeram Audinete se lembrar da sua mãe, que teve um nódulo na mama, foi atendida por mais de três especalistas e fez um longo tratamento. "Acompanhei tudo, sabe, fui de médico a médico, foi difícil", recorda Audinete.A dona de casa foi ao quarto oncologista. Desta vez, mesmo com o diagnóstico inalterado, tomou conhecimento de um tratamento menos agressivo. "Não precisou mexer nas mamas, fiz apenas um quadrante, sequei as axilas e fiz radioterapia", conta, ao lembrar da cirurgia que retirou um quarto da mama e tirou os gânglios linfáticos das axilas.
Morena, Audinete só teve como reação ao tratamento que fez por três meses no Real Hospital Português o escurecimento da sua pele no local onde teve as aplicações, caso comum em tratamentos por radioterapia. Chegou a ouvir sobre a necessidade de fazer quimioterapia, de um mastologista. Foi a hora em que voltou ao seu oncologista. "Ao invés de optar pela quimioterapia, ele quis fazer todos os exames novamente para decidir com segurança". A alta veio logo depois, sem quimio."Hoje me sinto ótima". Audinete diz que faz tudo que sempre fez. Lamenta as limitações para atividades que demandem a força dos braços. "Não posso mais pegar panelas pesadas, não posso carregar bolo. Só o que deixei de fazer".


Roseana é exemplo de superação
Com uma voz mansa e olhar penetrante, algumas vezes sem rumo, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) falou abertamente ao Correio/Diario em sua casa sobre todos os seus problemas de saúde. Dura na queda, a parlamentar se prepara para a 21ª cirurgia, prevista para o fim do mês. Ela vai tratar um aneurisma cerebral descoberto num exame de rotina em novembro de 2008."Era para ter feito isso logo no Natal e ano-novo, mas não quis deixar minha família preocupada", afirma. A senadora, que tem uma tendência a tumores, viveu seu pior momento em 1998. Naquele ano, ela retirou nódulos do pulmão, dos ovários, útero e trompas e um papiloma na mama direita, além de ter sofrido uma obstrução intestinal grave. Chegou a ser desenganada pelos médicos."Não me entrego nunca. As pessoas que passam dificuldades também deveriam fazer o mesmo", aconselha. Filha do ex-presidente da República e atual presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), Roseana recebeu em 2001 a notícia de que tinha dois carcinomas incito (câncer inicial) em uma das mamas. "Eu sempre tive a sorte de descobrir esses tumores e nódulos em estágio inicial e antes que se transformassem na doença", revela. Por isso, nunca precisou fazer quimioteria e radioterapia. "Mas se fosse necessário, eu enfrentaria tranquilamente", conta. Bem-humorada, a senadora diz que conhece tudo de hospital e dá até algumas dicas. "Nunca saio do hospital nos fins de semana. Porque se ocorre um problema, é difícil encontrar um médico para prestar uma assistência de emergência", ensina.Das 20 cirurgias que Roseana fez, apenas uma foi para fins estéticos. Em 2000, quando operou o joelho, ela se submeteu a uma lipoaspiração interna das coxas e na parte superior da barriga e ainda fez um preenchimento em volta da boca. "Como não podia mexer na parte inferior da barriga, decidi fazer em cima. Pelo menos uma cirurgia para me sentir mais bonita", ironiza.Um dos seus maiores prazeres - o cigarro - foi deixado de lado, por indicação médica, para se preparar para a cirurgia que vai fazer no fim do mês. "Gosto do cigarro e sempre tento negociar com os médicos uma forma de continuar fumando, mesmo que de forma moderada. Mas agora eu quero parar de vez. Para amenizar a vontade, procuro ingerir alimentos gelados, como picolé de limão", conta Roseana, que fixou residência há dois anos em Brasília.

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