sábado, 4 de dezembro de 2010

Preconceito Linguístico na mídia



Na sociedade atual, só a mídia é capaz de nos fornecer um relatório rápido e completo dos acontecimentos que se produzem à nossa volta. Seu papel é obter a informação, triá-la, interpretá-la e em seguida fazê-la circular.

Ninguém possui conhecimento direto do conjunto do globo. Além de sua experiência pessoal, o que se sabe provém da escola, de conversas, mas, sobretudo da mídia. Para o homem comum, a maior parte das regiões, das pessoas, dos assuntos dos quais a mídia não fala, não existem.

Na sociedade de massa, o entretenimento é mais indispensável do que antigamente para diminuir as tensões que ameaçam levar à doença ou à loucura. Para a mídia, o usuário solicita, sobretudo um divertimento e esta função combina-se eficazmente com todas as outras.

As funções dos meios de comunicação em nosso mundo são indiscutivelmente importantes. E como lhes são frequentemente atribuídos poderes imensos, são acusados à direita e à esquerda, no Norte e no Sul, pelos poderosos e pelos humildes, pelos velhos e pelos jovens de todos os males da sociedade moderna.

De modo geral, admite-se que podem exercer forte influência, em longo prazo, se a mensagem for homogênea, e, sobretudo se eles forem num sentido segundo o qual os usuários querem ir.

Um dos meios de comunicação que mais se destaca é a televisão. Surgiu no Brasil, em 1959 e adaptou-se a algumas transformações sociais. Ver televisão é um costume que já está incorporado à vida de todos nós, seja para nos informar, através dos noticiários, seja para nos entreter, com filmes, desenhos, novelas, programas humorísticos, entre outros. Por esse motivo, nem sempre prestamos muita atenção nas várias ideias que ela também veicula: dita padrões de comportamento, lança modas e gírias, cria hábitos de consumo, molda a opinião pública, estabelece padrões morais e estéticos, transmite valores e crenças e reforça a ideia do preconceito linguístico.
Dos programas cujo objetivo é o entretenimento, os humorísticos merecem especial atenção. Por eles, os modelos de moral, de ética e de respeito são passados. A grande maioria dos programas exibidos pauta-se no clássico chavão de expor ao ridículo uma imagem estereotipada. Comportamento sexual, orientações sexuais, preconceito regional, linguístico, étnico, associação de classes menos favorecidas ou de categorias profissionais à ignorância, relação entre a velhice a impotência total, seja sexual seja de discernimento, são pontos de partida para a criação de supostos tipos sociais e a partir deles, a criação do que chamam de humor.

Segundo MARCONDES (2003): Esses são clichês explorados ao máximo, reafirmando preconceitos, ou de todos os preconceitos. O humor quase que totalmente limitado a bordões. Isso quando ele não explora a vida privada de uma pessoa pública.

No programa Zorra Total (da TV Globo) em especial o quadro da personagem GISLAINE chama atenção quanto ao modo de falar:
“... pobre fala: Eu vô na fera compra murangu i vô coloca na sacola di prásticu...”
“... pobre só tem pobrema: pobrema de duença, pobrema di dinhero. Então junta tudo e joga fora...”


Esse quadro humorístico, “Gislaine”, enfatiza o preconceito linguístico por meio do humor, incentiva a discriminação, não respeitando as diferenças, expondo ao ridículo o pobre e aquele que fala fora dos padrões da norma culta.

Conclui-se que o preconceito linguístico está presente na sociedade de forma implícita e natural. Este é aceito pela comunidade, que transita, sem perceber, pela tênue fronteira entre língua como mecanismo de identificação e língua como mecanismo de poder. A mídia tenta a todo custo incutir ideias a serem seguidas e não discutidas, vemos com clareza a exploração política e econômica, mas não enxergamos prontamente a dominação da língua.

Tratar de língua é uma questão política, já que também é tratar de seres humanos. Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que as falam. A língua está sempre em mutação, em constante transformação, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível, a chamada norma culta. Essa descrição é claro tem seu valor e seus méritos, mas é parcial e não pode ser autoritariamente aplicada a todo o resto da língua.

É necessário analisar de modo crítico o que vemos e ouvimos, para que não sejamos manobrados, colaborando para reforçar o preconceito linguístico.
A questão é ensinar aos falantes da língua a valorizar, defender seu idioma enquanto instrumento de cultura. O ideal é ser “Um poliglota dentro de sua própria língua”, como afirma Bechara.

Adriana Braga é formada em Letras e pós-graduada em Linguística Aplicada à Língua Portuguesa.

3 comentários:

Apa disse...
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Apa disse...

Adriana, eu Alan Pereira, graduando em Comunicação Social pela Fundação Educacional do Município de Assis, tive a oprtunidade de ler seu artigo sobre o preconceito linguístico na mídia. Posso citá-lo em um projeto na qual estou trabalhando, sobre o preconceito linguístico nos programas humorísticos?
Caso tenha sua permissão, farei todas as citações legais. Aproveito ainda, para solicitar algum material na qual possa me disponibilizar.
Desde-já, muitíssimo obrigado.
Alan Pereira
e-mail: alancspp@gmail.com.

Bete Meira disse...

Alan, peguei esse texto pesquisando no Google. Não sei como fazer contato com a autora, desejo sorte a você nessa busca. Obrigada pela visita ao meu blog.