sábado, 4 de dezembro de 2010

"As escorregada "


Ao ver alguma figura importante falando na TV como, por exemplo, o presidente Lula, esperamos que ele fale o português mais correto possível, o que chamamos de norma culta, afinal ele está representando o país e não pode passar (ou nos deixar passar) vergonha.
Nesse vídeo do www.youtube.com, Lula é estigmatizado por todos por não falar o plural da forma correta (entre outros “erros”), e as pessoas se deliciam ao ver uma personalidade importante cometendo erros tidos como absurdos. Lula sofre preconceitos de todos os tipos, desde o social, pois vem de uma classe social baixa, até o preconceito linguístico, que advém do próprio preconceito social.
O que muitas pessoas não sabem é que o português falado é diferente do português escrito.
Quando corrigimos alguém que fala “os livro tão caro”, ao invés de “os livros estão caros”, estamos, em primeiro lugar, nos baseando somente no que diz a gramática. Gramática que serve apenas para nos auxiliar na escrita do português, e não na fala dele! E em segundo lugar, estamos sendo hipócritas, pois por mais que a gente pense que fale “os livros estão caros”, estamos enganados; faça o teste, preste atenção na maneira como você fala e verá o que acontece realmente. Há essa supressão porque a língua não sente a necessidade de marcar o plural em todos os elementos da frase. A presença do “s” no artigo é suficiente para marcar o plural, não causando nenhuma confusão: todos sabem que quando alguém diz “os livro tão caro”, quer dizer que mais de um livro está caro.
No inglês, por exemplo, para indicar o plural, basta que uma palavra esteja marcada, como na frase: The books are expensive (os livros estão caros), em que somente “book” está sinalizando que a frase está no plural. Há essa diferença por convenção. Foi convencionado que na Língua Portuguesa (escrita) é preciso ser feita a marcação de plural em todas as palavras da frase, enquanto que, na Língua Inglesa, foi convencionado o contrário. Não querendo dizer, entretanto, que tenhamos que falar da mesma maneira, já que na fala não sentimos a mesma necessidade que na escrita.
Portanto, não existe o “falar corretamente”. Todos que falam português, falam da maneira certa, pois se não fosse assim, as pessoas não se entenderiam entre elas, o que não acontece. Por mais que a pessoa diga “os livro tão caro” ou “pobrema” ela vai ser entendida pelos outros, com os quais está se comunicando, sem nenhum tipo de confusão ou estranhamento.

Publicado no blog de  Leandro Rodrigues  em 28/11/2007

Nenhum comentário: