sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bônus

Ganhei 14º e não sei nem porque

Acabo de saber que a escola onde trabalho bateu 95% das metas estabelecidas pelo Governo Estadual em 2010. Isso significa que ganharemos o Bônus de Desempenho Educacional (BDE), ou seja, o 14º salário, no próximo mês. Dinheiro extra é sempre bom. Mas, sejamos sinceros: que metas são essas? A verdade é que nem nós, que trabalhamos para cumpri-las, sabemos, ao certo.
De acordo com o site da Secretaria Estadual de educacao (http://www.educacao.pe.gov.br/), na sua 3ª edição, o BDE recebe um investimento de R$48 milhões do Governo do Estado. O montante será distribuído entre funcionários de 625 escolas. Essas instituições de ensino atingiram, pelo menos, 50% das metas estabelecidas.
Para quem observa de fora, os dados são animadores, parece que a educação está melhorando. Difícil é quem frequenta essas escolas no dia a dia perceber melhorias significativas.
Levando em conta a minha realidade, posso observar que na escola onde trabalho há menos alunos nas turmas, há alguns anos já são distribuídos livros, fardamentos e merenda e há reforma todo ano. Mas isso não implica em muita mudança.
A indisciplina é um problema constante. A reprovação só não o é porque os professores têm sido incentivados a aprovar em massa. Funciona mais ou menos assim: quando um colega se pronuncia dizendo que tal turma é indisciplinada, que alunos não rendem, que dificilmente aprenderam e por isso provavelmente muitos serão reprovados, é de praxe que ouça um "cuidado para a gente não ficar sem o 14º por sua causa". A violência também não desapareceu. Além de assaltos nas redondezas e até dentro da escola, virou moda alunos brigarem e outros gravarem tudo no celular. No dia seguinte, a briga vira o principal assunto em todas as turmas. E todo mundo acha engraçado.
Quando converso com colegas de outras escolas, observo que suas realidades não são diferentes.
Tenho que admitir uma coisa: na situação em que me encontro, recebendo o pior salário de professor do País, receber um 14º salário no meio do ano não é nada mau. Ajuda um bocado. Mas chegar ao ponto de achar isso "uma bondade" do governo e acreditar que é isso que vai ajudar a melhorar a minha realidade e a dos meus alunos seria muita "inocência".
Continuo achando que, desde que entrei no Estado, em 2005, pouca coisa mudou. A conversa é sempre a mesma: "as mudanças são lentas, são muitos anos de atraso e levaremos muitos anos para recuperar". Aí lembrei da professora Amanda Gurgel, aquela do Rio Grande do Norte, que "encantou" o Brasil com sua fala no Youtube durante umas duas semanas e agora já foi esquecida. No seu discurso, ela disse mais ou menos assim: "A minha necessidade de pagar contas, de me alimentar, é urgente!". Pois bem, mudanças a longo prazo não nos interessam.

Copiado e colado de :
http://www.blog-diariodeclasse.blogspot.com/

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