segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dar-se ao trabalho ou dar-se o trabalho?

“Prezado Sérgio, está certo dizer que alguém ‘deu-se AO trabalho’ de fazer alguma coisa? Encontro muito essa frase por aí, tanto escrita como falada, mas acho que seria mais correto dizer que a pessoa “deu-se O trabalho”, isto é, atribuiu o trabalho a si mesma, portanto sem preposição. O que você acha?” (Fernando F. Carneiro)
As duas construções que motivaram a consulta de Fernando são consideradas gramaticalmente corretas.
Isso significa dizer que estamos diante de um caso raro, mas sempre bem-vindo, de “tanto faz”.

Mesmo assim é preciso registrar que a primeira forma, “dar-se ao trabalho”, é considerada preferível por muitos estudiosos, por ser clássica.
A segunda, “dar-se o trabalho”, teria “cunho francês” e seria apenas “aceitável”, nas palavras do gramático Domingos Paschoal Cegalla.
De fato, a construção com preposição encontra muito mais abonações entre os bons autores.
“Nunca me dei ao trabalho de sabê-lo”, frase do cronista Paulo Mendes Campos, é um dos exemplos citados por Cegalla.
Note-se que, embora terminem por dar exatamente o mesmo recado, “dar-se ao trabalho” e “dar-se o trabalho” o fazem por caminhos sintáticos diferentes.
Quem se dá ao trabalho de fazer algo se entrega a ele, se joga nele – o pronome é objeto direto e o substantivo trabalho, objeto indireto.
Já quem se dá o trabalho atribui uma tarefa a si mesmo, como interpreta corretamente Fernando – neste caso o pronome é que é o objeto indireto, cabendo ao substantivo o papel de objeto direto.
Tudo o que foi dito acima se aplica também a expressões como “dar-se ao/o luxo”, “dar-se ao/o incômodo” e “dar-se ao/o respeito”.

Sérgio Rodrigues

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