quinta-feira, 5 de março de 2009

Pecado ou Misericórdia?


O Arcebispo e o aborto
O tema aborto volta à mídia mais uma vez. Agora, uma garota de 9 anos, abusada sexualmente pelo padrasto, engravidou (gêmeos) e, segundo os médicos, corria risco de morte. Pelas leis brasileiras, este caso é uma das duas exceções em que o aborto é permitido.Entretanto, Dom José Cardoso Sobrinho, bispo de Olinda e Recife, declarou que “aos olhos da Igreja, o aborto foi um crime e que a lei dos homens não está acima das leis de Deus”. Por isso, resolveu excomungar as pessoas envolvidas.Por lei de Deus, entenda as leis da Igreja. Por igreja, entenda-se a Igreja Católica.Diga-se de passagem, em nome de Deus guerras são feitas. Veja o caso das guerras do povo de Israel. Os narradores do Velho Testamento misturavam Deus com religião. Os líderes religiosos iam à frente do povo de Israel, nas guerras, mas os narradores escreveram que Deus ia à frente.Cometemos o mesmo erro quando dizemos que o governo de Israel era teocêntrico (centrado em Deus). Nunca foi. Basta ler as histórias registradas na Bíblia e veremos que a luta dos profetas sempre foi no sentido do povo e seus líderes retornarem para Deus. O governo era centrado na religião. A religião era o legislativo, o executivo e judiciário. Religião e Deus não são a mesma coisa.Voltando ao aborto.O curioso é que nada se falou a respeito da garota. Se não bastasse o trauma físico e emocional de ser abusada; de prejudicar sua infância e o curso de seu desenvolvimento; de correr o risco de morrer, ainda teria que levar, para o resto da vida, a marca visível – dois filhos - de experiência tão vil.Nada disso, entretanto, é importante para o arcebispo de Olinda e Recife, como não é para um monte de pastores protestantes e “teólogos” de gabinetes cuja preocupação número 1 é a instituição – fonte de sobrevivência econômica, espaço de progressão da carreira profissional religiosa -, não a vida de uma pessoa.Se dom José (e muitos de nós) fosse a favor da vida, estaria lutando não somente contra a interrupção – aborto - do desenvolvimento da vida de um individuo que está em construção no ventre de uma mulher, mas contra a interrupção – aborto - do desenvolvimento da vida de milhões de vidas que acontece diariamente, por falta de alimentação, teto, trabalho, segurança, enfim.Mas isso significaria ter que posicionar-se politicamente, inclusive contra interesses econômicos e políticos poderosos e colocar em risco o próprio status quo. Então, cala-se contra “n” tipos de abortos, mas levanta a voz em nome de Deus num caso gritante como o da menina pernambucana, sem qualquer manifestação de sensibilidade.O homem foi feito por causa do sábado, na visão dos fariseus. Então, já vimos esta história antes!


Edvar Gimenes

Um comentário:

ED CAVALCANTE disse...

Ótimo texto. Assino embaixo. Essa posição estupida tomada pelo dom, é coisa mesmo de "don". Mas pode esperar, o tiro sairá pela culatra. Quando ele sentir o peso da opinião pública (sobretudo a internacional),ele vai dar um jeito de refazer essa sua opinião inquisidora!

bjin!